Comentário de Sandro Fantinel (Patriota) sobre caso de migrantes trabalhando na safra da uva em Bento Gonçalves, ganhou repercussão nacional
O vereador caxiense Sandro Fantinel (Patriota) está sendo acusado do crime xenofobia contra baianos após realizar um discurso na Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Vereadores, nesta terça-feira (28). O comentário do vereador comentava a situação dos mais de 200 homens encontrados em situações semelhantes à escravidão na cidade vizinha, Bento Gonçalves.
O caso ganhou repercussão nacional, após denúncias realizadas pelos próprios trabalhadores – a maioria baianos – contratados pela empresa terceirizada Oliveira & Santana para atuar na safra da uva em vinícolas da região. Os funcionários relataram casos de maus tratos, péssimas condições de alimentação e habitação e quebra das promessas de pagamentos, que previam salários de cerca de R$ 3 mil. O Ministério Público do Trabalho está investigando o caso.
Durante a fala na sessão (assista o vídeo completo abaixo), vereador Fantinel disse aos agricultores e empresários do setor vitivinícola que “não contratem mais aquela gente lá de cima”, se referindo aos baianos. – “Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente” – emendou o parlamentar. Além disso, ele sugeriu a contratação de “trabalhadores argentinos”, que seriam “limpos, trabalhadores, corretos”. Abordando o caso de Bento Gonçalves, Sandro chamou a repercussão de “exagero e midiático”.
A fala do vereador foi condenada por colegas ainda durante a sessão e gerou várias críticas, também nas redes sociais de políticos de diversas alas partidárias. Durante a reunião da Câmara, os vereadores Lucas Caregnato (PT) e Rafael Bueno (PDT), se manifestaram condenando a fala. O deputado estadual Leonel Radde (PT), registrou um boletim de ocorrência contra Fantinel.
O governador do Estado, Eduardo Leite, chamou o discurso de “xenófobo e nojento” e disse que a fala contra o nordeste do Brasil, não representa o povo do Rio Grande do Sul. “Não admitiremos esse ódio, intolerância e desrespeito na política e na sociedade. Os gaúchos estão de braços abertos para todos, sempre”, afirmou Leite.
O presidente do Legislativo de Caxias do Sul, Zé Dambrós, fez um comentário em nome da mesa diretora da Casa, durante a sessão ordinária desta quinta-feira (1º), também condenando a fala do colega. O vereador destacou que “a mesa diretora não compactua com nenhuma manifestação de preconceito, discriminação, racismo ou xenofobia”, disse ele. Zé também destacou que, o discurso de Fantinel “não traduz o pensamento e os valores da instituição e nem da totalidade dos vereadores” – ele continuou – “também pedimos desculpas ao povo baiano e a todos os migrantes que se sentiram atacados, destacando que são todos muito bem-vindos em nossa Caxias do Sul”.
Em nota divulgada pela Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias (leia o documento abaixo), o prefeito Adiló Didomenico, afirmou entender “que não cabe ao prefeito fazer um julgamento de mérito sobre a fala de um vereador, em respeito à autonomia do Legislativo, mas reforçar que Caxias do Sul é uma cidade acolhedora e referência em recepção e capacitação de migrantes”.
NOTA OFICIAL – PREFEITO ADILÓ DIDOMENICO:
Adiló Didomenico entende que não cabe ao prefeito fazer um julgamento de mérito sobre a fala de um vereador, em respeito à autonomia do Legislativo, mas reforçar que Caxias do Sul é uma cidade acolhedora e referência em recepção e capacitação de migrantes.
”Repudiamos qualquer forma de discriminação e preconceito. Com relação ao fato ocorrido no município vizinho, reiteramos nossa inconformidade e determinamos reforço a todas as ações destinadas a garantir condições dignas de trabalho e assistência a todos que procuram Caxias em busca de oportunidades, sejam elas temporárias ou permanentes. Nosso município, desde sua fundação, é formado por pessoas que vieram de outros países e estados em busca de melhores condições de vida. O acolhimento está no DNA do desenvolvimento de Caxias. Um exemplo: só no ano passado, a prefeitura, em conjunto com a Polícia Federal, regularizou a situação de mais de 1.800 estrangeiros de 30 nacionalidades que viviam de forma irregular no país”.