Município já havia fornecido plasma até 2016, quando houve uma descontinuidade da coleta por parte da Hemobrás, empresa pública responsável
O Hemocentro Regional de Caxias do Sul (Hemocs) está qualificado para fornecer novamente plasma à indústria nacional. Após inspeções rigorosas e melhorias internas que atestaram a qualidade e a rastreabilidade dos processos da instituição, a primeira entrega para a Hemobrás, empresa pública responsável pela produção de medicamentos hemoderivados e biotecnológicos que atende ao Sistema Único de Saúde (SUS), ocorreu neste mês de agosto. Foram 320 unidades, cerca de 57 litros de plasma excedente, destinados à fabricação de medicamentos hemoderivados para pacientes do SUS.
Caxias do Sul já havia fornecido plasma até 2016, quando houve uma descontinuidade da coleta por parte da Hemobrás, em função de reestruturação interna e logística. Com a retomada, a empresa, em parceria com a indústria farmacêutica Octapharma, voltou a qualificar as instituições para o aproveitamento do plasma excedente.
Lisiane Cabrera Garcia, gerente dos Laboratórios do Hemocs, explica que existe obrigatoriedade legal para que os bancos de sangue, principalmente os públicos, destinem o plasma excedente ao fracionamento industrial, auxiliando na manutenção e autonomia da produção de medicamentos utilizados pela rede. “Se não for destinado à indústria, mais de 80% do plasma vai para descarte. A partir disso, são produzidos os fatores de coagulação, usados por pacientes hemofílicos, imunoglobulinas e albuminas, aplicadas em casos de imunoterapia, receptores de transplantes e doenças autoimunes. Esses medicamentos são produzidos pela própria Hemobrás para suprir a demanda do sistema público de saúde. Mandamos esse excedente e, além de não descartar, podemos utilizar toda a nossa doação, suprindo a produção desses medicamentos, que acabam voltando para a rede”, aponta.
A parceria entre Hemocs e Hemobrás também contribui para o objetivo de atingir a autossuficiência do Brasil na produção de hemoderivados, atendendo às demandas do país e aproveitando ao máximo cada doação realizada. Dessa forma, fortalece-se a hemorrede, referência na produção de medicamentos e no tratamento desses pacientes.
Para a entrega da primeira remessa após o retorno, a Hemobrás enviou um caminhão especializado em transporte de carga, com rastreamento e monitoramento rígido de temperatura (-30°C), garantindo a manutenção do congelamento. As bolsas seguiram até a fábrica da empresa, em Goiana (PE). A previsão é de que, a partir de agora, mensalmente sejam encaminhadas bolsas de plasma excedente para a Hemobrás.
Processo de separação do plasma
A doação de sangue, em sua totalidade, gera diversos hemocomponentes. No setor de processamento, o sangue total coletado é separado em concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas e plasma fresco congelado. Os dois primeiros são utilizados integralmente nos hospitais. Já o plasma, por apresentar menor demanda transfusional, gera excedentes que podem ser aproveitados na produção industrial.
Este envio à indústria só é possível graças à generosidade dos doadores de sangue, que, por meio de seu gesto de solidariedade, possibilitam não apenas o atendimento a pacientes que necessitam de hemocomponentes nos hospitais, mas também fomentam a produção de hemoderivados para todo o país.