Roque Benini, morador de Antônio Prado, foi diagnosticado com câncer de próstata em 2014
Segundo dados de 2020 do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de próstata ocupa o segundo lugar da lista de tumores malignos mais comuns no Brasil entre os homens. Além disso, a doença está na segunda posição entre as que levam pessoas do sexo masculino ao óbito no país.
A boa notícia é que, na maioria dos casos, o seu crescimento é lento, o que leva o tumor a demorar anos para causar algum sintoma. Dessa forma, garantir um diagnóstico nas fases iniciais é fundamental para evitar estágios mais graves da doença. Para tanto, é preciso realizar exames de rotina que cobrem o rastreamento do câncer de próstata. Nesse caso, pode-se citar o toque retal e a dosagem do PSA.
O toque retal é um exame rápido, simples e eficiente para detectar problemas nessa área do corpo masculino. No entanto, muitos homens têm vários preconceitos e temem esse exame. Dessa forma, o evitam, o que prejudica o diagnóstico precoce.
Combater o preconceito pode salvar vidas! Para inspirar você a realizar o exame de toque retal na faixa etária indicada, contamos, neste artigo, a história de um homem que ultrapassou o receio do exame e conquistou uma nova vida, provando que o câncer de próstata tem cura.
Entrevista com Roque Benini, de Antônio Prado, que em 2014 foi diagnosticado com Câncer de Próstata
Em um primeiro momento Benini atribui o câncer ao histórico familiar, seu avô e seu pai tiveram esse mesmo diagnóstico. Quando Roque tinha cinco anos seu avô baixou o hospital, pois não conseguia urinar, uma semana após veio a óbito. Ainda menino perguntou ao pai do que o avô havia morrido, o pai respondeu que tinha trancado a urina. Essa história durou por 50 anos, até que Roque precisou da certidão de óbito do avô e, para sua surpresa, a causa da morte foi próstata.
Nessa época o pai de Roque tinha 79 anos, – Eu falei pra ele que o nono tinha morrido de câncer de próstata –, diz. Pensando na hereditariedade levou o pai para exame médico e foram descobertos dois nódulos do tamanho de um grão de feijão.
A primeira opção dos médicos foi de fazer cirurgia, porém Roque optou em buscar opinião de outros profissionais. Conversou com alguns especialistas que optaram em fazer biopsia, com o resultado acharam melhor só acompanhar e fazer um tratamento, pois com sua idade não seria necessário fazer cirurgia, até porque seria perigosa.
– Meu pai viveu até os 99 anos, sempre acompanhamos fazendo exames, os nódulos não evoluíram-.
Depois da descoberta das causas da morte do avô e dos nódulos no pai Roque pensou: “Pô, eu sei o que me espera”. A partir dos 55 anos começou a frequentar médico regularmente uma vez ao ano. A partir dos 60 anos, de acordo com o médico, pelo fator hereditário, precisou acompanhamento a cada seis meses.
Benini conta que seus exames de PSA, no início, tinham números baixos, 2,5, porém em seis meses saltaram para 4,8. Quando esse número ultrapassa 4 já é suspeita, agravando mais quando dá um salto brusco.
Mediante esse quadro o médico solicitou uma biopsia, onde foram retirados seis fragmentos da próstata e em dois apareceram células malignas. – Eu não sentia nada, não tinha dificuldade de urinar, fiz uma ecografia e não aparecia nada, não tinha nada, estava normal-, relembra.
Quando recebeu o diagnóstico passou pela sua cabeça que estaria seguindo os passos do avô e do pai. – Sempre que se recebe um diagnóstico de câncer se perde o chão, mas em dois dias eu digeri a ideia-, relembra.
O médico que tratava Roque lhe deu três opções: acompanhar, pois estava bem no início; fazer cirurgia para retirada total da próstata; ou radioterapia. Como Roque gozava de boa saúde, foi lhe dito que a cirurgia seria tranquila.
Antes de tomar a decisão, conversou com mais três profissionais que o aconselharam em fazer a cirurgia. – Se não tivesse feito qualquer dorzinha eu ia ficar pensando bobagem. Então tirei a próstata e deu, tchau, se alguma coisa voltasse, eu ainda tinha a radiologia-.
Roque fez a cirurgia com 64 anos, disse que nunca sentiu sintoma, fez acompanhamento pelo fato dos casos em família. Os médicos acham que o câncer de próstata apenas 5% à 10% pode ser hereditário, Roque já acha que, se seu pai e seu avô tiveram há 50% de chance.
Um dos sintomas que todo o homem, com mais de 50 anos, deve prestar atenção é quando diminui o jato da urina, mesmo com vontade de urinar não consegue soltar todo o xixi. Isso ocorre, pois a próstata inflama e tranca a uretra, que passa no meio. Só que esse “trancamento da urina” nem sempre é câncer de próstata, pode ser também uma inflamação urinária, por isso a importância do exame. Quem passa pela cirurgia do câncer de próstata deve usar sonda por aproximadamente 30 dias, até cicatrizar, após a recuperação é rápida.
Roque conta que muitos boatos assustam os homens quando se fala de cirurgia de câncer de próstata. Um desses boatos é de que após a cirurgia o homem fica impotente, não tem mais ereção. – Mentira, isso é mentira, vejo por mim, mantenho minha vida sexual ativa. Claro, para voltar ao normal leva aproximadamente um ano, mas a gente volta a ter ereção sim e não tem incontinência urinária. Só não volta a “funcionar” quem não “funcionava” antes-.
Para Benini, a cada ano que passa a medicina avança e usa como exemplo a biopsia, cujo resultado aparece números que fazem parte de uma tabela chamada *Escore de Gleason.
Esses números, de 05 a 10, indicam o grau de agressividade do câncer, sendo que 05 é considerado normal, se der 06 ou 07 é considerado pouco agressivo. Já 08, 09 e 10 passa a ser mais preocupante pela agressividade e desenvolvimento mais rápido.
– No meu caso e no do pai o número deu 06, por isso não me preocupei muito. Como ele vai evoluído, quando foi feita a patologia, após a cirurgia, já havia atingido o número 07-.
Com a propriedade de quem acompanhou um familiar, passou pela doença, conversou com médico e atua na Associação de Apoio aos Portadores de Câncer (AAPC), Roque é taxativo em afirmar; – Quando o câncer sai da próstata e vai para a corrente sanguínea passa a ser tarde de mais, a luta ai é muito grande, normalmente também se reproduz nos ossos, depois vai para os pulmões. No estágio dos ossos é muita dor, muita luta, vem às quimioterapias, tudo isso pode ser evitado se fizer exame preventivo -, destaca.
Perguntado qual o conselho que daria aos homens, Roque foi direto e preciso.
– Eu diria para as pessoas não esperarem par ir ao médico somente quando tranca a urina, pode ser tarde. Quando tranca a urina a próstata está inflamada. Claro que pode ser inflamação da próstata. Em 75% dos casos é só abrir o canal, e fazer raspagem, tudo via videolaparoscopia.
Mas e se não for? O principal é pegar o câncer no começo, ver o tipo de agressividade, ai a solução é 100%-.
Quanto ao tabu dos homens de realizar o exame de toque Roque diz que esse é o mais eficiente. O PSA não é tão preciso para indicar o câncer, pois ele pode indicar apenas uma inflamação, ou até uma infecção urinária. Quando solucionado volta ao normal.
Já o exame de toque indica se há nódulos na próstata, o médico sente a consistência e pode analisar o tamanho. – PSA é um alerta, exame de toque e ecografia te mostram o que tem e a biopsia diz se é maligno ou não-.
Roque Benini finaliza dizendo que, não acredita que exista uma prevenção para não ter o câncer de próstata. Acredita que o melhor é fazer exercícios físicos, sem excesso de bebida, de gorduras, manter uma vida saudável que, se acometido, pode superar com mais facilidade. – Não adianta tomar chá disso ou daquilo, fazer isso ou aquilo você não vai ter câncer de próstata, acho que só o tempo dirá, essa é minha opinião-.
*Escore de Gleason (também conhecido como escala ou pontuação de Gleason) é uma pontuação dada a um câncer de próstata baseada em sua aparência microscópica. O escore de Gleason é importante porque escores maiores estão associados a piores prognósticos, já que são dados a cânceres mais agressivos.