Antônio da Luz e Giovani Baggio participaram da Reunião-Almoço da CIC Caxias e destacaram desafios para 2026 e impactos na Serra Gaúcha
A economia brasileira passa por um processo de desaceleração e enfrenta um cenário de desequilíbrio fiscal preocupante para os próximos anos. O alerta foi feito pelos economistas Antônio da Luz, da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), e Giovani Baggio, da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), durante a Reunião-Almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), realizada nesta segunda-feira (3), com o tema Cenários Econômicos do Brasil.
Ao abrir o painel, Antônio da Luz destacou que o país vive um processo de desaceleração econômica já em curso. Ele lembrou que, no início do ano, a indústria crescia mais de 13% e o setor de serviços cerca de 4%, mas que atualmente o desempenho é menos da metade. “A economia vem numa desaceleração importante e deve permanecer nesse processo”, afirmou.
O economista também alertou para um cenário de desequilíbrio fiscal significativo nos próximos anos, que, segundo ele, tende a pressionar a inflação e impedir uma queda mais acentuada dos juros. “Estamos indo para uma situação bastante grave. É bem provável que vamos começar a ver uma precarização dos serviços e uma queda forte nos investimentos por conta desse desequilíbrio”, observou.
Para ilustrar, ele comparou a política de gastos do governo ao uso excessivo de crédito pessoal: “É como se cada um de nós gastássemos todo o cheque especial, depois todo o cartão de crédito, e ainda fizéssemos um crédito automático para pagar o outro. As probabilidades de isso dar certo são muito baixas”.
Sobre possíveis soluções, o representante da Farsul defendeu um ajuste das finanças públicas e o cumprimento do arcabouço fiscal, criado pelo próprio governo. “Temos que gastar o que arrecadamos. Aliás, um pouco menos, para pagar os juros”, disse, citando medidas como a desvinculação do salário mínimo da Previdência e o pente-fino em benefícios indevidos como alternativas para equilibrar as contas.
Ao falar sobre os reflexos na região da Serra Gaúcha, o da Luz também destacou o bom desempenho do setor vitivinícola e da produção de proteínas, impulsionada pelas exportações. No entanto, alertou que o segmento de grãos deve ter crescimento mais modesto.
Baggio, por sua vez, ressaltou que a economia local, fortemente dependente do setor metal-mecânico, tende a sentir os efeitos da alta dos juros. “A desaceleração que se desenha deve atingir com força o setor metal-mecânico. As condições de crédito e a política monetária apertada não são benéficas para a região”, avaliou.
Sobre a reforma tributária, Baggio reconheceu avanços, mas apontou desafios durante a transição. “Vamos sair de um sistema considerado um manicômio tributário para algo melhor. Não é o cenário ideal, porque foram incluídas muitas exceções, mas será um sistema superior ao atual”, ponderou. “O risco é que, no final desse processo, a gente tenha um aumento de carga tributária. O governo tem que arrecadar na medida do que gasta”, concluiu.