No evento, o professor Marcelo Dutra da Silva também analisou as causas e os efeitos das mudanças climáticas
“O que aprendemos com eventos climáticos extremos?”. Com esse questionamento, o professor doutor Marcelo Dutra da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), iniciou sua palestra na RA CIC (reunião-almoço) desta segunda-feira (3), a primeira desde o início da tragédia que assolou o Rio Grande do Sul no início de maio. Silva, que é lotado no Instituto de Oceanografia e ministra disciplinas como Fundamentos do Processo Ecológico, Ecologia de Paisagens e Planejamento Ambiental, abordou os crescentes desafios climáticos e suas implicações ecológicas e econômicas. A palestra marcou a abertura da Semana Municipal do Meio Ambiente 2024 da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) de Caxias do Sul.
Em sua apresentação, o especialista destacou que eventos climáticos como El Niño e La Niña têm ganhado força e explicou que o aquecimento global está alterando o comportamento climático, com temperaturas médias mais altas e invernos menos rigorosos. Ele atribuiu essas mudanças à crescente carbonização da atmosfera. Silva defende que “o clima mudou. Toda iniciativa de descarbonização é bem-vinda. Precisamos criar um ambiente mais favorável ao investimento em fontes limpas de geração de energia”, afirmou, salientando que essas mudanças são globais, intensificadas nos últimos 50 anos. No caso do El Niño, trouxe enxurradas, inundações e o avanço das águas, deixando um rastro de destruição no Estado.
Ainda sobre a situação do RS, Silva também enfatizou a importância do planejamento para áreas de risco e inundação, alertando que a sustentabilidade exige ações imediatas e mudanças na forma como lidamos com o futuro. O professor também analisou as mudanças nos oceanos e nos padrões de precipitação. Silva destacou que a precipitação superou 1.000 milímetros em muitos municípios gaúchos em maio, volume acima de qualquer média anterior. “Estamos reféns dessa mudança”, afirmou, destacando que alguns locais precisarão ser realocados devido à ocupação de terrenos vulneráveis.
Para enfrentar esses desafios, Silva propôs medidas de prevenção e adaptação, como afastar áreas residenciais das margens e “renaturalizar” uma faixa segura de proteção; fortalecer as infraestruturas de contenção, os sistemas antienchentes e alagamentos; investir na manutenção das instalações preventivas e definir protocolos de atenção; revisar o Plano Diretor e as estratégias de crescimento urbano e desenvolvimento; rever os instrumentos de planejamento e implementar o Plano de Emergência Climática; e, por fim, “reconstruir dentro de uma nova lógica, bem mais inteligente”.
Silva também falou sobre a importância das práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) nas estratégias de negócios. Ele destacou que, embora ESG já seja conhecida e praticada, a cadeia de negócios ainda enfrenta dificuldades em se adaptar totalmente a essa agenda. “Responsabilidade socioambiental compreende um conjunto de obrigações, princípios e valores que as organizações devem adotar para operar de forma ética e segura”, disse ele, ressaltando a necessidade de decisões sustentáveis que não prejudiquem as pessoas e o meio ambiente.
Durante seu discurso de abertura da RA CIC, o presidente da CIC Caxias, Celestino Oscar Loro, reforçou os objetivos da campanha SuperAção e relatou a recente reunião com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, com ministros e diversas lideranças políticas e empresariais. Loro enfatizou a urgência de medidas governamentais para proteger os empregos e a renda da população.