Poemas estão disponíveis em áudio e vídeo e são uma homenagem aos 100 anos de Flores da Cunha
A história de fé, trabalho e perseverança dos imigrantes italianos que ajudaram a colonizar e construir a Serra gaúcha, em especial Flores da Cunha, é retratada em um compilado de quatro poemas intitulado ‘Terra do Galo’. O projeto está sendo lançado neste mês como homenagem aos 100 anos de emancipação política do município, celebrados em 2024. Os três primeiros episódios já estão disponíveis em áudio e vídeo no canal do Youtube do poeta Alessandro Dornelles.
Dornelles, autor dos versos, conta que o objetivo do compilado poético é a preservação da cultura italiana e da cultura gaúcha. O trabalho começou em 2020, e é baseado em muita pesquisa (mais de 1,8 mil páginas de livros) com historiadores e também músicos gaúchos.
A escrita do autor é inspirada no trabalho do payador e poeta Jaime Caetano Braun que, este ano, é o homenageado dos Festejos Farroupilhas em todo Rio Grande do Sul.
Assista os três primeiros poemas no canal do Youtube de Alessandro Dornelles De Andrade (clique aqui).
Um pouco do que contam os versos
Logo no primeiro poema, o artista retrata os desafios da viagem, com todas as adversidades que os imigrantes enfrentaram durante os cerca de 30 dias de viagem saíndo da Itália até chegaram a Flores da Cunha. Os versos contam sobre a determinação dos colonos em cultivar a terra adquirida e levar progresso a região.
No segundo, trata sobre a colonização em Flores da Cunha, falando sobre a demarcação de terras e construção de comunidades. No poema também é descrito sobre a construção das moradias, da igreja e do famoso campanário da cidade.
Já o terceiro poema fala um pouco da história de Joaquim Mascarello, imigrante italiano que foi o primeiro intendente da então Nova Trento, atual Flores da Cunha. Ele exerceu o cargo de “prefeito” por quatro anos, de 24 de maio de 1924 a 29 de setembro 1928, e foi fundamental para a emancipação política.
O quarto e último poema, que deverá ser lançado nos próximos dias, é intitulado Terra do Galo. Ele conta um pouco de como é a Flores da Cunha dos dias de hoje.
Confira, abaixo, o primeiro poema do compilado:
“A PARTIDA E A CHEGADA
Ao buscar na nossa história
Agente volta no passado
E os relatos encontrados
Trazem fatos e verdade
Que formaram a sociedade
Desta brasileira nação
Pois o marco da povoação
Foste terra fértil de plano
Pra quem cruzou o oceano
Num sonho de imigração
E assim eu começo o tema
Desta saga migratória
Que vai relatar a trajetória
De quem buscou mudar a sorte
Com a vacina , com passaporte
E com alguns poucos trocados
E o coração mais apertado
Que pulsava de esperança
Com trabalho por herança
E o dialeto por legado
E no porto de Genova
Esperavam a dura viagem
Na privação e na aragem
Até a sua data solene
Más condições de higiene
Num o navio de travessia
Era um antro de epidemia
Que ao destino se encontrava
Numa viagem que durava
Mais ou menos trinta dia
E ao chegarem no Brasil
Aguardavam na ilha das flores
E aliviavam suas dores
Dos duros dias enfrentado
E ao destino embarcados
E para Rio Grande seguia
Breve descanso e partia
Rumo o barracão do imigrante
Na Porto Alegre distante
Na praça da harmonia
Pra o Porto dos Guimarães
Era o rumo depois da li
No vapor barão do cai
Por água a viagem encerra
Prosseguindo depois por terra
Uns á pé outros montado
E na garupa cestos atado
Levando roupas e filhos
E alguns poucos utensilhos
Para o lote tão sonhado
Aos que ficaram no caminho
Sepultou-se a esperança
Ficou saudade e lembrança
Num coração feito brasa
Tapado em cova rasa
Junto a cruz falquejada
Ou sobe as aguas gelada
Nos mares do continente
Destinos tão diferente
Entre partida e achegada
Cabanas de pau-a-pique
Foram sendo construídas
Abrigando sonhos e vida
Em clareiras dentro da mata
Que ao futuro se retrata
Aos caminhos do alvorecer
Com a certeza que vão colher
Os frutos que irão pagar
A terra que vai plantar
E a vida que vai viver
Abrir caminhos e estrada
E não deixar no esquecido
O compromisso assumido
Aos costumes e religião
A capela era laço de união
E do Santo levava o nome
Pois o pão alimenta o home
E a fé alimenta a certeza
Pouco vale uma farta mesa
Se a alma morre de fome