Defensoria Pública do Rio atua com força-tarefa no IML e já atendeu 106 famílias; governo confirma uso exclusivo do instituto para necropsias da operação
Mais da metade dos corpos das vítimas da megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, já foi identificada e começa a ser liberada para os familiares. O governo do Estado montou uma força-tarefa no Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto, no centro do Rio, para acelerar os exames de necropsia dos mortos durante a Operação Contenção, que teve como alvo integrantes do Comando Vermelho.
Segundo o governo, o IML está sendo utilizado exclusivamente para os corpos relacionados à operação, com entrada restrita a agentes da Polícia Civil e promotores do Ministério Público. Casos não ligados à ação estão sendo encaminhados ao IML de Niterói, na Região Metropolitana.
O atendimento às famílias ocorre no prédio do Detran, ao lado do instituto. A Defensoria Pública do Rio montou uma estrutura emergencial no local e já realizou 106 atendimentos desde quarta-feira (29). A força-tarefa da Defensoria atua em diferentes frentes — no Complexo da Penha, no estacionamento do Detran, no IML e no Hospital Getúlio Vargas — oferecendo suporte jurídico, psicológico e auxílio na documentação das vítimas.
De acordo com a defensora pública Mirela Assad, da Coordenação Geral de Programas Institucionais (Cogpi), a identificação de parte dos corpos enfrenta dificuldades por falta de familiares. “Algumas famílias buscaram a obtenção de documentação para identificação civil. Outras precisavam de auxílio para a gratuidade de sepultamento ou para o traslado de corpos para outros estados”, explicou.
Ao todo, 40 profissionais da Defensoria estão envolvidos no trabalho no IML. Além do atendimento jurídico, o órgão presta apoio emocional aos familiares e acompanha os procedimentos de necropsia.
Uma comitiva do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) também acompanha as autópsias. O procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira, afirmou que três médicos legistas e um promotor realizam uma necropsia independente, com o uso de um scanner de alta precisão para radiografar os corpos. O equipamento, segundo ele, é fundamental para entender a dinâmica dos confrontos e verificar possíveis abusos.
A operação realizada na terça-feira (28) é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro. Em coletiva após os confrontos, o governador Cláudio Castro (PL) declarou que as únicas vítimas seriam quatro policiais mortos na ação. No entanto, moradores relataram que, entre a madrugada e a manhã de quarta-feira, ao menos 60 corpos foram levados por populares até a Praça São Lucas, no Complexo da Penha.
No início da tarde, todos os corpos haviam sido encaminhados ao IML. O último balanço oficial do governo estadual aponta 121 mortos, enquanto a Defensoria Pública contabiliza 132 vítimas.