Projetos de pesquisa desenvolvidos por estudantes e professores da rede municipal de ensino ficaram entre os melhor avaliados do IFRS e da UNIVATES
A recente passagem pelo circuito de feiras e mostras científicas de alcance estadual e regional tradicionalmente realizadas nesta época do ano se revelou uma verdadeira temporada de safra de premiações para a rede municipal de ensino de Caxias do Sul. (E em se tratando de safra, não por acaso as escolas do campo voltaram para casa de carga cheia, como se verá logo abaixo.)
Sob orientação de professores do quadro da Secretaria Municipal de Educação (SMED), estudantes das Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs) apresentaram projetos de pesquisa nas mais diversas áreas de conhecimento – inscritos somente após sobreviverem a uma rigorosa seleção prévia feita individualmente por cada escola, a fim de identificar os trabalhos mais consistentes.
E tem também o caso de quem se classificou no estilo Copa do Mundo: depois de passar por uma fase anterior de eliminatórias.
“Nós ganhamos aqui, pela escola, o 3º lugar na Mostraseg, que nos deu vaga para participar da Feira de Ciências da Univates, onde conquistamos o 2º lugar, e ficamos em 1º na mostra do IFRS. Só que na mostra do IFRS, ainda ganhamos um 3º lugar com um grupo de trabalhos do 7º ano”, revela a professora Carla Todero Ritter, responsável pela orientação de alguns dos jovens pesquisadores que vêm fazendo faltar lugar na prateleira de troféus da EMEF Alberto Pasqualini.
Uma escola formando a cultura da pesquisa
Para quem está chegando agora: Mostraseg consiste na Mostra Científica e Tecnológica das Escolas de Ensino Fundamental e Médio da Serra Gaúcha, organizada pelo programa Engenheiro do Futuro (ENGFUT), da Universidade de Caxias do Sul (UCS), que em 2023 chegou à 15ª edição. A Feira de Ciências da Universidade do Vale do Taquari (UNIVATES) ocorre em solo de Ensino Superior, em Lajeado. E a Mostra IFTec é a exposição realizada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), atualmente na 12ª edição.
Nos dois últimos anos, a garotada da Alberto Pasqualini não quer saber de largar o pódio das mostras em que se inscreve. Em 2022, um trabalho investigando as aplicações de dispositivos de realidade virtual como ferramenta de auxílio para autistas faturou o 2º lugar na Mostraseg e rendeu bolsas de estudo integrais para as duas pesquisadoras cursarem todo o Ensino Médio no CETEC, a escola da UCS.
Já este ano, com o projeto Plástico Bolha Biodegradável Plantável, depois de conquistarem o 3º lugar na Mostraseg, as estudantes Giovana da Silva Gomes e Jennifer da Silva de Souza venceram a categoria de Ciências Exatas e da Terra na Mostra IFTec e com o 2º lugar na Feira da Univates, ganharam uma bolsa de iniciação científica pelo CNPQ. O resultado é inédito para Caxias do Sul.
Como funciona: os professores das instituições de Ensino Superior encaminham projetos para o CNPQ e precisam de bolsistas para execução. E os alunos, tanto do ensino fundamental quanto do ensino médio, é que são os bolsistas. No caso das meninas, trata-se de uma bolsa de 12 meses, com valores aportados pelo CNPQ para o estímulo da pesquisa científica no país.
“Isso que é bacana. Mais do que uma premiação ou uma credencial para outra mostra, que foi o que elas já conquistaram, estar imerso num ambiente acadêmico é muito significativo. Isso é nascente da premiação. E ganhamos o segundo lugar, isso é muito bom! De novo, colocamos o pé no pódio”, celebra a professora Carla Todero Ritter, da EMEF Alberto Pasqualini.
Um traço característico das pessoas envolvidas com o universo da pesquisa científica é que, movidas pela curiosidade, tendem a se apaixonar pelo trabalho e não sossegar o espírito. As meninas da Alberto Pasqualini estão com a agenda cada vez mais ocupada.
“Ah, aqui na escola a gente inscreveu o projeto das meninas, esse da produção de plástico bolha biodegradável plantável, num concurso promovido pela empresa Santa Clara. Eles disponibilizam valores como fomento para a pesquisa científica nas escolas. E a nossa escola ficou entre os 10 melhores projetos. Então, tem mais isso, também”, comemora Carla.
Um professor espalhando a palavra da investigação científica
“No filme Extraordinário há uma frase que diz: ‘todo mundo deveria ser aplaudido de pé pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo’. E é isso que procuramos proporcionar aos estudantes que realizam projetos de pesquisa”. A frase, neste caso, não no filme, mas na vida real, é do professor Fernando Menegat, que além de encarar as salas de aula, também orienta trabalhos científicos nas EMEFs Machado de Assis e Padre João Schiavo.
2023 vem sendo um ano especial para o docente. Além de contribuir para expandir o repertório da garotada da Machado de Assis do mundo que conhecem no bairro Reolon para o universo sem fim da investigação científica, com a estreia em exposições, ajudou a mudar o destino de (pelo menos) três estudantes da João Schiavo – que já é frequentadora assídua do circuito de feiras e mostras de conhecimento.
O passo inicial consiste exatamente em fazer a turma entender que a participação neste tipo de evento, por si só, já é uma grande coisa. Qualquer prêmio que eventualmente vier, é bônus (e mérito).
“Todo ano, quando começamos as orientações dos projetos de pesquisa nas escolas, é dito aos estudantes que, independentemente dos resultados das mostras científicas que por ventura venhamos a participar, o mais importante é que os projetos de pesquisas que serão realizados façam o bem para a sociedade, façam o bem para as pessoas, que contribuam para uma sociedade melhor”, revela Menegat.
Além disso, destaca o professor, os estudantes tomam consciência de que elaborar o projeto de pesquisa beneficia a eles mesmos. De forma a que possam chegar em uma entrevista de emprego e dizer que desenvolveram um projeto de pesquisa próprio, desde o rascunho, que fizeram gráficos, pesquisas de campo, fichas de leitura, cumpriram prazos, produziram entrevistas, aprenderam a falar em público e a usar ferramentas tecnológicas de forma responsável, entre outras habilidades.
Outro fator levado em conta é o caráter de valorização e popularização da ciência, que deve ser inerente a cada trabalho, com a proposta de que qualquer pessoa seja capaz de ler e compreender a pesquisa.
“A pessoa precisa entender o que o pesquisador quis transmitir e como ela é beneficiada, pois é o trabalho das pessoas mais simples que financiam a pesquisa. Acredito que o VAPER vá nessa linha e por isso seja um trabalho tão lindo, pois é de fácil entendimento”, explica o orientador.
Menegat refere-se ao projeto VAPER – Valorizando as práticas empreendedoras rurais, concebido na EMEF Padre João Schiavo, em Fazenda Souza, a partir da ideia de valorizar os agricultores e agricultoras da região, valorizar os empreendimentos da própria comunidade escolar e dar visibilidade aos empreendedores e empreendedoras locais.
“Entre os grandes problemas atuais estão o desemprego e o fechamento de inúmeras empresas pelo fato de as pessoas estarem buscando produtos de muito longe, ao invés de valorizarem os empreendimentos próximos às suas casas”, aponta Menegat.
Os estudantes Lian Souza Kirchheim, Luiza Teixeira Riva e Murilo Boff Casagrande mergulharam, então, em uma pesquisa de campo com os familiares de todos os colegas do turno da manhã que estivessem à frente do próprio negócio. A partir dos dados coletados, elaboraram posts de Instagram personalizados para cada empreendimento, contando um pouco da história e das batalhas de cada um, e colocaram no ar o perfil @vaper_schiavo.
Uma segunda etapa foi a aprovação de todo o material com os envolvidos – muitos dos quais, não têm sequer o conhecimento ou os meios tecnológicos para fazer uma tarefa em que os adolescentes surfam com a mais absoluta familiaridade geracional. Todos saíram ganhando.
Os posts, que conferem uma visibilidade inédita aos negócios locais, estimulando a compra do que é produzido e comercializado perto de casa, foram elogiados em uma das mostras pelo alto grau de profissionalismo. Tudo isso, associado a entrevistas e revisão bibliográfica que se transformaram em um relatório científico com mais de 20 páginas.
Resultado: entre os mais de 80 trabalhos apresentados na 15ª Mostraseg, da UCS, o VAPER ficou com o 2º lugar no nível de Ensino Fundamental. O que garantiu a Kirchheim, Riva e Casagrande (que é assim que pesquisador assina trabalho, com o sobrenome) bolsas de estudo integrais para cursarem o Ensino Médio, a partir de 2024, nos prestigiados bancos escolares do CETEC.
E entre os mais de 100 trabalhos inscritos na 12ª Mostra IFTec, do IFRS Caxias do Sul, venceram a categoria das Ciências Sociais Aplicadas (em que a João Schiavo ficou também com o 2º lugar e ainda ganhou a categoria de Ciências Humanas) e conquistaram o 1º lugar geral de todo o evento.
“Nossos estudantes merecem um capítulo à parte pois foram muitas madrugadas escrevendo relatórios, fazendo leituras, trocando mensagem com seus orientadores, perguntando o que necessitavam melhorar. São joias que só necessitam de oportunidade para desenvolver todas as suas potencialidades, sempre com uma orientação adequada. Para nós é gratificante ser reconhecido como um trabalho de destaque, mas temos certeza que somos apenas mais um entre diversos projetos de qualidade na educação básica do município. Há de se ressaltar que, em tempos de tudo ser imediato, é admirável a persistência dos estudantes em fazer um trabalho que demora quase um ano para ficar ‘pronto’”, sentencia Menegat.
Um território fértil para o cultivo do conhecimento
A exemplo da vizinha João Schiavo, de Fazenda Souza, a EMEF Santa Lúcia, do distrito de mesmo nome, enquadra-se na categoria do que o mapa da Educação no Brasil costuma chamar de Escola do Campo. São aquelas mais afastadas da área urbana dos municípios, dotadas de particularidades de falas, costumes e saberes próprios. O que a escola de Santa Lúcia do Piaí tem de diferente é que logo na estreia em exposições científicas resolveu passar o trator na concorrência.
Em 2023, a professora de Ciências (6º e 7º ano) e Matemática (8º ano) Letícia Osório assumiu a orientação da garotada, dando sequência ao trabalho iniciado um ano antes pelas colegas Kelli Alves (Língua Portuguesa) e Débora Bonatto (Matemática), com apoio da coordenadora pedagógica Gabriela Fiorini.
“Esse ano antecipamos a nossa Feira de Ciências e os alunos visitaram a Mostraseg, com o intuito de prepará-los e motivá-los para outras mostras. Surgiu a oportunidade de participar da Mostra IFTec. Já ficamos muito felizes pela seleção dos trabalhos e mais ainda com o resultado. Trabalhar com pesquisa científica é sempre um grande desafio pois, muitas vezes, é uma desconstrução daquilo que os alunos estão acostumados a apresentar. Isso só é possível quando há trabalho em equipe”, revela Letícia.
A recompensa, segundo a docente, surge durante todo o percurso. A cada constatação do quanto a experiência é importante para o desenvolvimento dos estudantes como cidadãos críticos. Só este ano, a educadora está trabalhando com aproximadamente 80 adolescentes.
“A partir de todos os projetos que integraram nossa Feira de Ciências, selecionamos aqueles que estavam mais alinhados com a metodologia científica para participar da Mostra IFTec. Além disso, outros dois trabalhos foram enviados para integrar um e-book internacional da organização Global Edu-Leaders [com sede na Índia]”, conta Letícia.
Para a estreia no circuito de mostras e feiras do conhecimento, como ponto de partida, foi proposto que os alunos, reunidos em pequenos grupos, pensassem em um problema para desenvolver as suas pesquisas – aos de 6º ano, na escola; e aos de 7º ano, na comunidade. A equipe de professoras se engajou auxiliando na estruturação e acabamento dos trabalhos, formatação nas normas da ABNT, preparação para apresentação oral e escrita, tabulação e elaboração de gráficos e organização das etapas de desenvolvimento. Não por acaso, vários outros temas interessantes surgiram e os alunos já estão incentivados a dar continuidade no próximo ano.
A garotada de Santa Lúcia do Piauí debutou na exposição do IFRS logo com dois primeiros lugares – um na categoria Engenharias e outro em Ciências Biológicas. E no caso das Biológicas, não sobrou para mais ninguém: a EMEF Santa Lúcia ficou com os três lugares do pódio na 12ª Mostra IFTec.
“O momento da premiação foi uma grande festa! Ficamos todas muito emocionadas. Logo no dia seguinte, na escola, eles compartilharam com os colegas a experiência em participar da mostra com muito entusiasmo. E agora todos eles já sabem como vão dar continuidade aos trabalhos. Isso é o mais legal”, reflete a orientadora.
Letícia destaca que quando os alunos participam de atividades como essas, desenvolvem habilidades e competências que vão além da sala de aula. Além da experiência em apresentar, é muito importante a interação com outros colegas. Eles trocam ideias com outros participantes e são desafiados por alguns avaliadores.
“Eu estou realizada! Realmente é muito gratificante estar na Escola Santa Lúcia, participar do processo de aprendizagem desses alunos e contar com as professoras, equipe diretiva, coordenação pedagógica e responsáveis pelos alunos. Sem esse trabalho em equipe, isso não seria possível”, resume.
E a base vem como?
Alerta de excesso de fofura passando na sua tela. O futuro da pesquisa científica na rede municipal de ensino já está ativo. E é do campo que continuam vindo alguns dos melhores frutos: a EMEF Assis Brasil, da localidade de Zona Rotta, no distrito de Vila Cristina, levou seus pesquisadores do 1º ano para a principal exposição científica de todo o Estado, a Mostratec – versão Júnior
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Acompanhados pelas professoras Lucélia Amaral Martins e Maria Madalena Debastiani, os pequenos Davi Andriolli Klering, Izabela de Freitas Pagliarin e Sarah de Mattos Dalanhol apresentaram o seu projeto Parreiras, e se eu não podar?, entre 23 e 27 de outubro, em Novo Hamburgo.
“Foi numa contação de história, que surgiu a necessidade de saber mais sobre as parreiras e como ocorre o desenvolvimento desta cultura. Os estudantes têm algum conhecimento do assunto, pois suas famílias trabalham com videiras ou conhecem alguém que é produtor, porém há muitas dúvidas. Como a Assis Brasil é uma escola de campo, desenvolvemos o projeto buscando a construção de novos conhecimentos sobre o assunto e a valorização do homem do campo que tanto trabalha na produção de alimentos”, relataram as orientadoras.
E O PRÊMIO VAI PARA
EMEF ALBERTO PASQUALINI
- GPS Sensor Para Deficientes Visuais – 3º Lugar categoria Ciências Sociais Aplicadas na 12ª Mostra IFTec
- Placa Solar Caseira – 2º Lugar categoria Engenharias na 12ª mostra IFTec
- Plástico Bolha Biodegradável Plantável – 1º Lugar categoria Ciências Exatas e da Terra na 12ª Mostra IFTec, 2º Lugar na 12ª Feira de Ciências da Univates e 3º Lugar na 15ª Mostraseg

EMEF BENTO GONÇALVES DA SILVA
- Análise Do Perfil Dos Entrevistados Diante As Questões De Desigualdade Social E Qualidade De Vida – seleção da 12ª Mostra IFTec
- Teste De Comparação De Diferentes Tipos De Leite Armazenados Em Temperatura Ambiente E Temperatura De Geladeira – seleção da 12ª Mostra IFTec

EMEF MACHADO DE ASSIS
- Feminismo E Machismo: Perspectivas Dos Jovens Da Periferia De Caxias Do Sul Sobre Questões De Gênero – seleção da 12ª Mostra IFTec
- Racismo: Uma Análise Da Realidade Da Periferia De Caxias Do Sul – seleção da 12ª Mostra IFTec

EMEF MANOEL PEREIRA DOS SANTOS
- Promovendo A Consciência Global E A Educação Financeira: Relações Internacionais E Investimentos Estrangeiros Nas Escolas De Caxias Do Sul – seleção da 12ª Mostra IFTec
EMEF PADRE JOÃO SCHIAVO
- Pesquisa Científica Na Educação Básica E Sua Importância Para A Melhoria Da Educação – 1º Lugar em Ciências Humanas na 12ª Mostra IFTec
- Procrastinação: Conhecer Para Não Fazer – 2º Lugar em Ciências Sociais Aplicadas na 12ª Mostra IFTec
- Reciclar Para Preservar – seleção da 12ª Mostra IFTec
- Vaper: Valorizando As Práticas Empreendedoras Rurais – 1º Lugar em Ciências Sociais Aplicadas na 12ª mostra IFTec, 1º lugar Geral na 12ª Mostra IFTec e 2º lugar na 15ª Mostraseg

EMEF PROFESSORA ESTER JUSTINA TROIAN BENVENUTTI
- Apostas Esportivas: Vícios, Fraudes, Lucros E Regulamentação – seleção da 12ª Mostra IFTec
- Consumo De Pornografia Entre Adolescentes De Uma Comunidade Escolar – seleção da 12ª Mostra IFTec
- Crianças Nas Telas – Como Essa Exposição Pode Ser Prejudicial – 3º Lugar em Ciências da Saúde na 12ª Mostra IFTec
- Riscos E Problemas Do Envio De Fotos Íntimas Nas Redes Sociais – seleção da 12ª Mostra IFTec
- Tdah Na Adolescência: Diagnósticos E Tratamentos – seleção da 12ª Mostra IFTec
EMEF PROFESSOR NANDI – LUÍS FERNANDO MAZZOCHI
- O Risco Do Futuro Dos Jovens Sem A Educação – 3º Lugar em Ciências Humanas na 12ª Mostra IFTec
EMEF SANTA LÚCIA
- Árvores Da Escola Municipal De Ensino Fundamental Santa Lúcia – 1º Lugar em Ciências Biológicas na 12ª Mostra IFTec
- Produção De Energia Elétrica A Partir De Placas Solares – 1° Lugar em Engenharias na 12ª Mostra IFTec
- Resto Ou Desperdício De Alimento Na Escola De Santa Lúcia? – 3º Lugar em Ciências Biológicas na 12ª Mostra IFTec
- Uso Da Água Pelos Estudantes Da Escola Municipal De Ensino Fundamental Santa Lúcia – 2º Lugar em Ciências Biológicas na 12ª Mostra IFTec

Fotos: EMEFs/ Divulgação