Bispo de Caxias do Sul se encontrou diversas vezes com o Papa e destacou que o falecimento de Franciso “entristeceu a todos”
O falecimento do Papa Francisco, ocorrido nesta segunda-feira (21), causou comoção em todo o mundo católico. Em entrevista à Rádio Solaris, na manhã do anúncio oficial, Dom José Gislon, bispo da Diocese de Caxias do Sul, lamentou profundamente a perda e destacou o legado espiritual e pastoral deixado pelo pontífice argentino. “Foi uma notícia que entristeceu a todos”, afirmou.
Segundo ele, embora a saúde do Papa Francisco já estivesse fragilizada, sua resistência ao longo dos últimos anos foi notável — amparada, sobretudo, pela oração da comunidade católica global. “Parte a pessoa, mas fica o legado da sua missão para as próximas gerações e para a história da vida da Igreja”, completou.
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Um pontificado marcante
Ao refletir sobre os 12 anos de pontificado, Dom José ressaltou a força transformadora da atuação de Francisco. “Se olharmos do ponto de vista do tempo, não é um pontificado longo. Mas o que ele fez em 12 anos marcou profundamente a Igreja e continuará marcando”, disse.
Dom José lembrou que o Papa levou para o Vaticano a espiritualidade jesuítica, marcada pelo espírito missionário, pelo diálogo com o mundo acadêmico e pela seriedade na condução da missão. Ele também destacou a origem periférica de Jorge Mario Bergoglio — vindo de uma metrópole latino-americana, Buenos Aires, capital da Argentina, repleta de contrastes sociais — como algo que influenciou diretamente a maneira de viver e interpretar o Evangelho.
Papa das periferias
“Ele tinha um forte senso de olhar a realidade do povo de Deus nas periferias do mundo”, afirmou o bispo. Dom José enfatizou que Francisco fez questão de visitar nações pobres e regiões esquecidas, levando mensagens de paz, esperança e fraternidade. Essa postura, segundo Gislon, também se refletiu em sua abertura ao diálogo com outras religiões, marcada pela encíclica Fratelli Tutti, que defende pontes no lugar de muros.
Inspirado em São Francisco de Assis, o Papa também reforçou a consciência ecológica da Igreja, especialmente por meio da Laudato Si, encíclica que trata da “casa comum”. “Ele sempre ressaltou que devemos buscar o desenvolvimento sem destruir a natureza, que é o lar que abriga a todos”, destacou Dom José.
Reforma e coerência
O bispo de Caxias do Sul também destacou as reformas implementadas por Francisco na Cúria Romana. Entre elas, o fortalecimento da participação das mulheres em cargos importantes dentro do Vaticano e o combate firme aos abusos cometidos dentro da Igreja. “Ele exigia coerência entre vida e missão. O Evangelho não pode ser poesia distante da realidade”, pontuou.
Um sinal de esperança
Durante a entrevista, Dom José lembrou com emoção momentos marcantes do pontificado, como a imagem do Papa sozinho na Praça São Pedro durante a pandemia, transmitindo uma mensagem de esperança ao mundo. “A humanidade precisa reavivar o sentido da esperança. Sem ela, nos deixamos envolver pelo caos”, disse.
Últimos encontros e proximidade com o Brasil
Dom José também falou sobre os encontros que teve com o Papa Francisco ao longo dos anos. Nomeado bispo de Caxias do Sul durante seu pontificado, Dom José esteve com Francisco em Roma em diversas ocasiões e destacou o carinho do Papa com o Brasil e, especialmente, com a Serra Gaúcha, que ele já havia visitado antes de ser eleito. “Ele se sentia em casa conosco sempre”, comentou.
Igreja em oração
Ainda nesta segunda-feira (21), a Catedral Diocesana de Caxias do Sul celebra missa em sufrágio pela alma do Papa Francisco. A partir de agora, a Igreja entra em período de sede vacante, sob condução do Cardeal Camerlengo, até a realização do conclave que vai eleger o novo Papa. “É o Espírito Santo quem conduz a história da Igreja. E a missão continua”, concluiu Dom José Gislon.