Anderson Buffon e sua família se orgulham de realizar todo o processo: produzir a uva e elaborar o vinho até chegar na garrafa
Anderson Buffon representa a quinta geração de sua família a trabalhar com uva e vinho, numa tradição que remonta à chegada de seu ancestral Giaccomo Buffon à colônia Dona Isabel, atual Bento Gonçalves, no fim do século XIX. A vinícola da família, instalada desde então no distrito de Faria Lemos, conta com parreirais centenários ainda em produção. “Foram plantados pelo meu bisavô e fazemos vinhos a partir de suas uvas até hoje”, garante Anderson.
O que começou com um hectare de videiras plantadas em frente à casa da família, hoje ocupa uma área de 10 hectares cultivados com as mais diversas variedades de uvas. “Meu pai gosta de plantar dois, três pés de cada tipo, daí temos quase uma centena de variedades plantadas, para vinho e de mesa. Ele gosta de colecionar”, se diverte.
Como muitos viticultores da região, a família Buffon inicialmente vendia suas uvas a outras vinícolas ou cooperativas, até a formação da Rota Cantinas Históricas, em 2010. “Participamos do roteiro como armazém, com produtos da região. A gente começou a trabalhar com todas as vinícolas daqui, e deu vontade de fazer o nosso próprio vinho”, conta Anderson. O interesse levou Anderson e sua irmã a buscarem qualificação na área de Viticultura e Enologia – ele vai finalizar o curso superior, e ela está no curso técnico do Instituto Federal. “E aumentou ainda mais a vontade, né. Você está lá, produz a uva, trabalha com o vinho dos outros e dá aquela vontade de melhorar o que está fazendo”.
A partir de 2019, a família Buffon resolveu levar adiante o projeto de ter sua própria vinícola: sob orientação do escritório local da Emater/RS-Ascar, reformaram o armazém para que pudesse se adequar às exigências sanitárias e ambientais necessárias para obter o registro no Ministério. Também alteraram o contrato social do CNPJ, de armazém para vinícola, e solicitaram a inclusão no Peaf. O registro no Ministério da Agricultura veio em setembro de 2020.
A produção da vinícola está em torno de 30 mil litros anuais, e a venda é focada no consumidor final e na parceria com adegas especializadas, que comercializam o vinho pelo Brasil.
“Não buscamos grandes redes porque eu acho que nosso principal objetivo é elaborar vinhos finos em lotes limitados e buscar um público específico, porque tem toda uma história por trás. Tu pega a tua uva, que tu produziu o ano inteiro, cuidou o ano inteiro e traz pra cá, para a família mesmo elaborar o vinho, até chegar na garrafa. Eu gosto de valorizar todo esse processo artesanal. A gente poderia ser uma vinícola normal? Sim, mas daí seria como os outros. O meu vinho é elaborado por toda a família, desde a uva até o produto final”, destaca.
Anderson segue com a tradição dos vinhos de mesa produzidos com uvas clássicas como Bordô e Isabel – inclusive, é a variedade dos parreirais plantados pelo nono Buffon há um século e que continuam em produção. Mas o futuro enólogo se entusiasma com as possibilidades que encontra na produção de vinhos e espumantes finos, com variedades históricas. “Queremos manter uma agroindústria familiar e agregar valor ao estilo do vinho, mostrar que o vinho familiar não é só o garrafão. A gente pode elaborar vinhos finos com ótima qualidade”, conclui.
Texto: Elaine Pinto/ Secretaria da Agricultura
Fotos: Fernando Dias