O Dia do Professor é comemorado em 15 de outubro
A data foi criada para homenagear esses profissionais que dedicam suas vidas à transmissão do conhecimento e ao desenvolvimento da educação no nosso país. No mês dos professores, procuramos uma professora que dedicou mais da metade de sua vida a educação.
Marta Zambianco Grazziotin, 71 anos, aposentada há 14, conta agora como nasceu à paixão pelo magistério e relembra histórias vividas com alunos.
Formada em Letras pela Universidade de Caxias do Sul, Marta conta que quando estava cursando o segundo ano da faculdade, com 21 anos de idade, foi convidada para lecionar pela professora Rosa Maria Guerra, que na época era diretora da escola Cenecista. – Comecei a lecionar no Cenec em 1972, nesse mesmo ano consegui um contrato com a escola Frei Candido Bampi, hoje Frei Casimiro Zaffonato, em Ipê, onde lecionei por cinco anos – conta. Nesses 36 anos lecionou: Língua Portuguesa, Literatura, Literatura Infantil e Didática da Linguagem no CNEC e na Escola Estadual Professor Ulisses Cabral, em Antônio Prado.
Perguntamos para a professora quais as recordações que tem dos alunos. De imediato disse, “foram tantas, inclusive vocês da rádio” (se referindo ao Alexandre, Amarildo, Betinho e ao Ronei). – Era uma empatia tão grande que eu tenho lembranças de todos, até de onde sentavam –, comenta com emoção na voz.
Quando lecionou na Escola Cenecista em 1972, Marta lembra que eram três turmas de Técnico em Contabilidade. Muitos alunos tinham sido seus colegas de aula no primeiro grau, a maioria era da mesma faixa etária dela. Outros mais velhos como Júlio Zaniol, Laurindo Bortoloto, Paulo Pazzeto, Adail Lucena e outros. – No 3º ano do segundo grau eram apenas 11 alunos, mas eu me lembro deles perfeitamente, no 1º ano eram 45-, recorda.
Marta conta que no início sentiu muita dificuldade para lecionar, pois no 2º ano de faculdade não possuía ainda uma didática. – Meus exemplos de como ser professora naquela época, eram os professores que eu sempre admirei. Lembro-me de um que me dizia assim; “a gente tem que estudar muito”. Jesus, como eu estudei, como eu estudei… Em 72 não existiam livros didáticos, para passar matérias era utilizado o mimeógrafo a álcool, as folhas eram caras, então era quadro negro, giz e gogó. A gente tinha que preencher esse tempo, fazendo atividades em que os alunos se dedicassem e aprendessem com isso eu também fui aprendendo. Era um ensinar aprender, aprender ensinar -.
De acordo com a professora, no curso de Magistério, fazia com que os alunos, que iriam se tornar professores, tivessem vontade e disposição de aprender. – Eu sempre tive como princípio, “é caminhando que se abrem caminhos”. Conforme tu caminhas, se estiver claro na tua cabeça, o teu sonho, precisará de disciplina para que esse sonho se torne ação. Daí realidade, tudo tem que caminhar junto – .
Não interessando em que escola, em que sala ou com quais alunos, é preciso determinação, Marta usou uma frase de Santa Terezinha, muito usada pelo Pe. Schio, “vamos florescer onde estamos plantados”.
Perguntada aonde se perdeu o respeito pelos professores. Sem titubear, Marta nos deu a seguinte resposta: – Eu posso te dizer assim; Na época que se instalou na cidade a empresa Kalil Sebe, Alfred, que empregou muitas mães de família, uma professora, a Lucila Dotti, dizia: “Meu Deus, as crianças não vão ser as mesmas”. Ficar em casa com as mães os irmãos é diferente da realidade de hoje. Pelo que a gente vê, o poder aquisitivo das famílias é muito pequeno. Como é que um pai, ganhando o que ganha, pode sustentar uma família? Ele deveria, no mínimo, ganhar R$ 5 mil. Por isso, as mulheres querendo, ou não, também se obrigam a trabalhar -.
Para amenizar essa situação a professora acha que o salário dos pais poderia ser maior, as escolas poderiam ter uma estrutura que pudessem acomodar mais os alunos para turno integral. – Hoje em dia a gente vê muita falta de respeito com os professores. Na minha época eu não via isso. Às vezes o próprio professor não conhece o aluno e nem a família desse aluno. Acho que no momento que o aluno, tem a atenção dos pais e da escola, a maneira de ele tratar o professor muda.
Marta acha que falta um pouco de compromisso dos os pais, pois a convivência s filhos, o “ficar junto” está ficando cada vez mais difícil. Segundo ela, têm crianças que vão para a creche ou escolinha às 07h e saem às 19h, já com sono, assim não interagem com os pais.
– Eu sou a favor da escola em tempo integral, mas acho que os pais deveriam ser reeducados para a convivência com os filhos –.
A professora conta que nunca castigou um aluno, que sempre foi de abraçar e conversar, – a direção também fazia isso, a gente percebia os resultados. Claro que teve alunos que foram transferidos, hoje não se pode mais fazer isso. Eu acho que os professores podiam ter mais autoridade. Foi tirada essa autoridade dos professores. Não quero com isso dizer que os professores iriam bater, castigar. Outra coisa que acho é que os educadores deveriam ter mais empatia com os alunos, conversar, descobrir o problema que ele enfrenta, conhecer seus sonhos-.
Sobrecarga de Atividades
Segundo Marta, muitas vezes os professores se sentem desmotivados e desamparados, porque eles têm muitas atividades e um salário baixo. Muitas vezes eles são o arrimo da família, fazem jornadas triplas, preparam aulas em casa. –Agora tem horas atividade na escola, o que dá mais tempo para o professor preparar a aula. Na minha época eu tinha 40 horas, dessas 40 a gente lecionava as 40, mas eu sei quantas 40 eu fiz em casa-.
Para Marta o professor está preocupado em dar matéria, vencer o conteúdo. Quando o aluno, se ele souber ler e escrever, ele busca seu conhecimento, diz. Ele precisa ser reconhecido, valorizado, ele quer ser útil, o professor muitas vezes, sem querer, poda isso. – Você pode ver, no momento que você pedir ajuda para um aluno, é muito difícil ele não ajudar, às vezes até atrapalha de tanto que ele quer ajudar, então, ele quer ser útil, ele quer ser reconhecido-.
Para comprovar sua tese de que xingamentos e punições não resolvem, Marta conta um fato vivido por ela há algum tempo.
– lembro que há uns quatro anos atrás fui convidada para fazer uma palestra na Escola Aparecida. Iria falar some minha experiência como professora e aluna. A diretora e duas professoras não conseguiam controlar a turma. Elas gritavam, chamavam atenção.
Em forma de protesto, os alunos viraram todos de costas para elas, botaram os pés em cima das classes. Eu disse para elas: “é pra mim fazer a palestra”? elas pediram: “tu acha?” eu respondi: “então vocês fiquem quietinhas”. Fui para o fundo da sala e comecei a falar com eles, cheguei e disse: “Oi, tudo bem? Eu adorei vocês na apresentação das danças, vocês têm uma desenvoltura muito boa”. Eles foram aceitando a conversa e se virando para a frente, tirando os pés da classe. Lembro que falei com eles por uma hora e quinze minutos, e em nenhum momento pedi atenção, pois não precisou, eles simplesmente ficaram me escutando. Quando deu o sinal eu fui para a porta e disse: “Ninguém merece ficar sem recreio!” Eles passaram, me deram um abraço, tchau e saíram. Com isso quero dizer que você tem que “entrar na deles”. Eu entendi as professoras, queridas, elas queriam que eles respeitassem. Hoje tuas atitudes é que fazem eles te respeitar. Quando eles sobem no palco, fazem essas atividades fora e são valorizados, eles têm responsabilidade e sabem respeitar-.
Foi perguntada à professora sobre a qualidade do ensino; não reprovar aluno; qual era a sua opinião. De imediato respondeu: – Sou contra, totalmente contra não reprovar. Coitados dos alunos, eu fico com pena. Só que daí, eu acho que o professor, o aluno e a escola dependem de legislação do Estado ou do Município, pois a lei é não reprovar. Nessas condições, de não reprovar, o professor teria que ter uma formação: não ficar despejando conteúdo, porque, coitado do aluno que não aprende. O professor tem que mudar a maneira de ensinar -.
Hoje, Marta acredita que esses alunos que foram aprovados sem aprender, vão passar por dificuldades quando prestarem um concurso ou procurar um emprego. Disse também que lembra, em épocas passadas, professores tinham horas atividades para atender aos alunos com dificuldade no aprendizado. – Eu lembro uma ocasião que um aluno não conseguia ler direito, todo mundo ria dele. Um disse eu disse pra ele: “vem pra cá hoje à tarde que a profe pode te dar aula”. Naquela tarde eu e ele ensaiamos leitura exaustivamente, eu dizia pra ele, você é capaz, você tem que treinar.
No dia seguinte eu cheguei e disse: “fulano, venha ler”, os colegas diziam: “A não profe, logo ele que não sabe ler”. Ele se saiu como se fosse um orador. Olha como a autoestima ajuda a resolver esses problemas, tem que ter alguma coisa diferente.
Eu dizia para os meus colegas “Pô gente, nós vamos ficar 25, 30 anos numa escola, quantas gerações vão passar por nós, elas vão ser a geração do futuro”. Hoje eu olho alunos e penso, “ai que bom, valeu o esforço, olha como ele vai bem”. Os professores de hoje também tem essa preocupação de fazer seus alunos irem bem.
Marta, apesar de o dia do professor já ter passado, 15 de outubro, essa profissão como tantas outras, devem ser valorizadas todos os dias. Qual a mensagem que você deixa para os professores?
– Eu digo para que os professores não esmoreçam, pois se eles escolheram a profissão de professor, educador eles tiveram sonhos. E então, que eles continuem com seus sonhos buscando melhorar ainda mais. Que eles façam tudo para que seus sonhos sejam realizados da melhor forma possível, tenham disciplina e que suas ações sejam de acordo com o que sonharam.
Eu acho que a educação é um alicerce para que o indivíduo se torne verdadeiro cidadão. Quando eu digo educação falo de educação de casa, da sociedade e da escola.
Todos juntos temos que formar um alicerce seguro para que as crianças e adolescentes sejam verdadeiros cidadãos de Antônio Prado e do Mundo. Eu vejo crianças se conectando com o mundo. Hoje temos tecnologia, então nós temos que deixar uma garantia que sejam coisas boas, tudo aquilo que eles aprendem. E que bom que a tecnologia veio e, que bom que a gente possa tornar isso possível.
Que a gente possa brincar no pátio, estudar no banco escolar, e que a gente possa usar da tecnologia para o nosso desenvolvimento e para nossa alegria, e que possamos viver isso com tranquilidade, de bem com a vida.
Quero parabenizar os professores e tiro meu chapéu para eles e para todos os que apoiam a educação. Acho que nós temos um compromisso muito grande com o ser humano.
Tomara que seus sonhos sejam realizados na figura de seus alunos, para que eles também possam cultivar sonhos.
– No governo do prefeito Valner Borges, entre 1983/1988, Marta exerceu o cargo de Supervisora de Educação. Por um curto espaço de tempo chegou a assumir a Secretaria de Educação.
– No governo de Ulisses Pasa, entre os anos de 1989/1992 foi Secretária de Educação.
– Durante o governo de Euclides Carra e Mario Schioquet, de 1997 a 2000, quando houve o consenso, também foi convidada a assumir a Secretaria de Educação.
1 comentário
Justa e significativa homenagem aos professores de Antônio Prado representados pela professora Marta.Eu fui professora em Antônio Prado e Ipê e colega da professora Marta e gostaria de deixar aqui meu abraço carinhoso a ela dizendo que me senti,orgulhosamente representada,lendo suas palavras sensatas, emocionadas e sábias. OA educação e o ensino dos dias atuais precisam de muitos,muitos professores com a visão,conhecimento, e sede de se superar e renovar permanentemente sempre buscando novos caminhos, através de um trabalho responsável como foi a trajetória da professora Marta,que em momento algum descuidou de sua missão principal, o semear e regar as mentes férteis e sedentas que lhe eram entregues,quer fossem infantis, jovens ou adultas. Mostrando o caminho e ensinando a confiarem na sua própria capacidade e inteligência para avançarem na direção dos seus sonhos.Marta um grande abraço e obrigada por termos sido colegas num trecho do caminho. Bj,Claudette
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