No começo de mais uma safra, Lídio Scortegagna e Olir Schiavenin, fazem um apelo à indústria para uma maior gratificação financeira aos produtores de uva
O aroma da uva está no ar. Mais uma safra se inicia na Serra gaúcha, com as mãos ligeiras ‘correndo’ entre as folhas de parreira para colher a delicada fruta. Centenas de pessoas permanecem horas e horas sob os vinhais, retirando quilos e mais quilos de uva, fruto do trabalho de um ano inteiro, de milhares de famílias na região.
O produto já está sendo recebido pelas pequenas e grandes indústrias. A uva, doce e saborosa como nunca, também chega nas mesas de muitas casas, para ser consumida em natura, ou logo em diante em deliciosos vinhos, sucos, espumantes, geleias e outros doces, dentre tantos derivados da fruta.
Em algumas propriedades rurais do interior, o trabalho já iniciou, em outras, os preparativos para o tempo de vindima estão a todo o vapor. Uma das pessoas que já começou a colheita, em sua colônia na Linha 40, é o ex-prefeito de Flores da Cunha Lídio Scortegagna. “A minha profissão é agricultor. E isso sempre disse, com muito orgulho”. (ouça a entrevista abaixo)
Em sua colônia, Scortegagna, que deixou o cargo em 31 de dezembro de 2020, cultiva as variedades Bordô e Isabel. A expectativa, segundo ele, é colher cerca de 130 mil quilos de uva dentro dos próximos 50 dias. “A safra é excelente, uma uva de qualidade e o pessoal está animado. O preço [do quilo da uva] é que nós esperamos que ele melhore nos próximos dias”, afirmou o ex-prefeito.
A preocupação no que diz respeito ao valor pago pela uva é praticamente unanimidade entre os produtores. Lídio fez um apelo aos empresários: “Esperamos que os cantineiros se sensibilizem na hora de fazer o pagamento, vejam o bom produto e paguem um pouco mais os nossos agricultores que tanto trabalham o ano inteiro”, disse Lídio.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, também está preocupado com a situação que se apresenta, apesar da boa qualidade da fruta. “O preço mínimo estabelecido pelo governo [federal] é uma verdadeira vergonha”, afirma o sindicalista. Para a entidade, mesmo neste período de safra, é necessário que haja diálogo e negociação, pois o produtor não pode negociar a venda ‘a qualquer preço’.
Olir critica também a atitude individualista da indústria, que têm se “organizado” para pagar um valor ilusório pelo quilo da uva. “Os estoques estão baixos, as indústrias venderam, o preço do vinho e derivados teve aumento significativo também em relação ao ano passado”, justifica Schiavenin. “A uva precisa e deve ser valorizada mais do que isso. Pra indústria, não pesa 10, 15, 20 centavos a mais ao quilo, e, pro produtor isso faz muita diferença”, completa.
Entrevista Lídio Scortegagna e Olir Schiavenin – Safra 2021