A máxima desta segunda-feira (28) de 42,9ºC em Uruguaiana foi a maior desde o início das medições em 1910
A temperatura máxima em Uruguaiana na tarde de hoje atingiu 42,9ºC na estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia. O registro é extraordinário do ponto de vista histórico na climatologia do Rio Grande do Sul porque se trata da maior temperatura máxima já observada oficialmente no estado desde que tiveram início as medições regulares entre os anos de 1910 e 1912. A máxima desta segunda-feira (28) de 42,9ºC em Uruguaiana passa a ser o novo recorde oficial absoluto de temperatura máxima no Rio Grande do Sul, superando os recordes anteriores de 42,6ºC em Alegrete em 19/1/1917 e em Jaguarão em 1º de janeiro de 1943.
Trata-se também do novo recorde oficial de calo para fevereiro no Rio Grande do Sul. E, ainda, recorde absoluto de máxima para fevereiro e qualquer mês do ano em Uruguaiana, batendo as marcas de 42,2ºC de1986 e 42,0ºC de 1943.
A onda de calor de 1917
Em 1917, quando da intensa onda de calor que afetou o Rio Grande do Sul, um dos principais diários do estado era o jornal A Federação. Fundado em 1º de janeiro de 1884 em Porto Alegre, a publicação circulou até o ano de 1937. O jornal, um órgão do Partido Republicano Rio-Grandense, tratava de questões políticas e notícias gerais, além de anúncios que no século XIX ofereciam escravos.
O diário apresentava no começo do século uma coluna diária com as condições ocorridas do tempo com dados de temperaturas mínimas e máximas em Porto Alegre, interior gaúcho, Montevidéu, Florianópolis e Rio de Janeiro. Foi na coluna diário do tempo intitulada “O Tempo” do Instituto Astronômico e Meteorológico que apareceu o recorde de Alegrete.
O estado vivia no período uma severa estiagem, conforme os jornais da época. Em janeiro de 1917, o jornal A Federação noticiava que a seca era “assustadora” em Arroio Grande. Já o noticiário por telex que vinha de Pelotas dava conta que continuava “a se fazer sentir a seca em todo o município de maneira extraordinária”.
Publicações em jornais à época sobre acontecimentos meteorológicos davam pouca atenção e não costumavam passar de notas com poucas palavras, uma vez que reportagens não eram as regras nos jornais. Nota publicada no jornal A Federação em 1917, contudo, narrou o calor extraordinário em Alegrete e os recordes de temperatura registrados com tabelas e uma descrição do calor.
“O lugar mais quente do estado
Em Alegrete tem feito um calor senegalesco, tendo a temperatura nos dias 17, 18 e 19, attingido, naquella cidade, respectivamente a 41,1C, 42,3ºC e 42,5ºC, o que é extraordinário quando nos lembramos que aqui em Porto Alegre a temperatura máxima naquelles dias sufocantes foi de 38,9ºC.
Diz a Gazeta de Allegrete, a propósito: ‘Há muitos anos, ou pelo menos desde que aqui temos estação meteorológica, (1912) nunca tivemos um calor tão sufocante, mesmo se attendermos às condições especiaes de impermeabilidade do nosso sólo, por natureza secco e pedregoso. A respeito das altas temperaturas, Alegrete sempre tem se manifestado um dos pontos mais quentes do Estado, nos mezes de janeiro, fevereiro, março, novembro e dezembro, que soem ser os de maior calor do ano. Em 1912 excedeu a todas demais pontas do Estado com 38,5ºC, no dia 21 de março. De então para cá, em cada anno, tem mantido seus créditos em assumpto de temperaturas elevadas”.
Em 1917, a temperatura em Alegrete alcançou 38,6ºC no dia 17, uma máxima de 41,1ºC no dia 17, 42,3ºC no dia 18, impressionantes 42,6ºC no dia 19 e 40,0ºC no dia 20. O calor extremo provocou insolação nas pessoas e até morte na comunidade alegretense, conforme informações dos jornais da época.
Fonte e registros: MetSul Meteorologia