Criatividade de professores aproxima crianças e jovens dos surdos, muito bem representados com a Surdolimpíadas
Já não é de hoje que conteúdos inclusivos como a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) são trabalhados nas salas de aula da rede municipal de ensino em Caxias do Sul. Mas com a passagem inédita das Surdolimpíadas no município, o assunto virou mania entre crianças e jovens das escolas de educação infantil e ensino fundamental. Graças à criatividade de educadores e professores, milhares de estudantes têm se engajado direta ou indiretamente com o evento, a partir das informações originadas pela competição organizada e realizada de maneira independente, pela iniciativa privada, com apoio institucional da Prefeitura.
Em paralelo, vale ressaltar, milhares de alunos e alunas em grupos organizados e conduzidos pelos professores e equipes diretivas de cada escola já prestigiaram as disputas das Surdolimpíadas ao vivo, em diferentes pontos da cidade.
“Há alguns meses já temos divulgado informações sobre Libras, Surdolimpíadas e a importância deste evento para toda rede municipal de ensino. O objetivo é justamente subsidiar as escolas com informações sobre a cultura surda e sobre as possibilidades de inclusão que este evento traz para Caxias do Sul. De uma forma ou de outra, todas as escolas estão participando. Acima de tudo, é um evento que trabalha fortemente as questões de inclusão. É a inclusão acontecendo de maneira real”, afirma a diretora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação (SMED), Paula Martinazzo.
Projeto especial em escola para surdos
Um dos destaques cabe justamente à escola especial voltada à comunidade surda do município, a Helen Keller. A instituição que percebe a linguagem de sinais como língua materna dos estudantes trabalhou, desta forma, até mesmo a gastronomia de cada país, abordando a riqueza da diversidade cultural. Mas não apenas. O projeto especificamente elaborado para celebrar a presença das Surdolimpíadas também falou sobre aspectos geográficos das nações e ressaltou o esporte como uma forma harmoniosa de convivência, com a intenção de promover uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana e saúde mental.
As atividades desenvolvidas no período (ou ainda em andamento) envolvem confecção de cartazes, sinais de esportes, sinais de países, oficina de sinais internacionais, acompanhamento de jogos, visita ao Centro Surdolímpico nos Pavilhões da Festa da Uva e produção de vídeo.
Sinais de acolhimento a atletas e medalhas aos pequenos
Produção de vídeo, aliás, como qualquer pessoa que conviva diariamente com crianças e jovens bem sabe, é sucesso garantido entre o referido público. E foi neste método que apostou a equipe da Escola de Educação Infantil (EEI) Planalto Rio Branco, onde a garotada protagonizou um vídeo dando as boas-vindas aos atletas em Libras. Dentro da ideia de transmitir acolhimento aos visitantes, as turmas também sinalizaram aplausos, com o tradicional agitar de mãos, e ainda fizeram o sinal das Surdolimpíadas. As atividades, segundo as educadoras Alana Christoff e Oneida Vilagran da Silva, facilitam a compreensão das particularidades culturais e linguísticas das comunidades surdas, além de – mais uma vez – desenvolver habilidades que contribuem para a inclusão da pessoa surda.
Ainda entre os pequenos, na EEI Aurora Milesi Rizzi ninguém ficou sem medalha: as próprias crianças confeccionaram suas versões da premiação das Surdolimpíadas, após uma conversa e observação da imagem dos originais. O que chamou atenção da turma, conforme a educadora Caroline, foram os detalhes que caracterizam a região, como o cacho de uva e a bomba do chimarrão.
Libras para todos
Para transformar a conversa com as pessoas surdas em um diálogo de fato no futuro, noções básicas de Libras apareceram na rotina da Escola de Educação Infantil Vovó Maria. A criançada, que é ouvinte, aprendeu alguns sinais envolvendo atividades divertidas, modalidades esportivas e características dos países participantes. E de acordo com a coordenadora Gilcéia Ramos, o grupo respondeu com grande curiosidade.
Na EEI Ana Aurora 2, que igualmente trabalha com público ouvinte, os pequenos também já começaram a ter contato com inclusão desde cedo, conhecendo sinais para se comunicar com pessoas surdas. O caminho escolhido pela educadora Laura França para transmitir algumas saudações foi o das brincadeiras.
Presenças VIP
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Ester Justina Troian Benvenutti, os estudantes acabaram tirando proveito de uma feliz coincidência – proporcionada pelo alto nível técnico do quadro de servidores da rede municipal. Professor de educação física da instituição, Flávio Manara é também técnico da seleção brasileira de basquete nas Surdolimpíadas.
E assim, facilitou a visita dos atletas Levi Brittes e Laura Andreazza, acompanhados da intérprete, professora Patrícia dos Reis de Souza, aquecendo alunos e alunas com a expectativa para a competição ainda durante a fase de preparação.
“Por meio de um evento como as Surdolimpíadas, podemos falar de temas como inclusão, empatia e resiliência. De desafiar-se, sair da zona de conforto, ser protagonista da própria vida. Conseguimos deslocar todos estes eixos que são previstos nos regimentos escolares e propostas pedagógicas a partir de um evento esportivo. Por vezes, procuramos motivos para trazer estas temáticas para a escola e as Surdolimpíadas nos dão todos estes temas para serem trabalhados. Pedagogicamente, entendemos a riqueza que este evento pode proporcionar dentro dos planejamentos pedagógicos das escolas como formidável”, conclui a diretora pedagógica da SMED, Paula Martinazzo.
Fotos: SMED / Divulgação