Com diferença de cinco anos, casal adotou uma menina e um menino
A Equipe de Jornalismo da Rádio Solaris 97.3 de Antônio Prado em homenagem ao Dia Das Mães (09), produziu uma série de três matérias sobre mulheres e suas experiências com a maternidade. Histórias diferentes, dentre tantas outras, que se encontram no principal fundamento, o amor.
Uma dessas mães é Terezinha Vizentin Maschio, que adotou duas crianças.
Conheça a história da Ica
O jovem casal Claudino Maschio, conhecido como Caio, com 29 anos e Terezinha Vizentin Maschio, conhecida como Ica, de 25 anos, uniram-se em matrimônio em 1968. Desde antes do casamento, ainda nos tempos de namoro, os jovens sonhavam ter filhos. Nem tudo, porém ocorreu como o esperado. Passados três anos e após várias tentativas o casal resolveu procurar um médico. O diagnóstico foi como um balde de água fria sobre os dois. Caio era estéril, não poderia ter filhos. Determinados, o casal não se deu por vencido, decidiram que iriam adotar uma criança. Em primeiro momento acharam que sofreriam críticas dos familiares, mas isso não aconteceu, as críticas vieram depois da adoção.
“Sofremos muitas críticas, diziam que a gente iria se arrepender que ele só iria dar problema, nossa, foi terrível”, desabafa Ica.
Uma conhecida freira, amiga do casal, que trabalhava no Hospital Pompéia, sabia do desejo de Ica e Caio de adotarem uma criança.
Um belo dia, em janeiro de 1971, a religiosa ligou para o casal dizendo que havia nascido um menino negro, que a mãe havia fugido, deixando a criança no hospital. Passados 10 dias do nascimento, o jovem casal foi até Caxias buscar o primeiro filho.
Chegando lá, Ica achou que não fosse negro e sim moreno, de imediato se apaixonaram pelo bebe, “ele era lindo, como eu acho que ele é agora (risos), nos apaixonamos por ele”.
O primogênito recebeu o nome de Leandro e todo o carinho dos pais, que trabalhavam em um restaurante de sua propriedade, onde ainda moram hoje.
Ica dizia que os clientes gostavam de Leandro, pegavam em suas mãos com carinho. “uns olhavam os dedos e diziam em italiano “el vá dar um negreto”, (que iria ser um negrinho). Nunca me importei com isso, pois eu e o Caio amávamos demais esse guri.
O segundo filho
Com Leandro já criado, com cinco anos, Ica e Caio pensavam em adotar mais um filho.
“A adoção da menina foi uma história muito triste, mas graças a Deus nós surgimos na vida dela”.
Ica relata que uma manhã, quando cuidava de sua mãe, que morava com ela, ouviu uma pessoa chamando insistentemente seu nome. Foi até a janela e viu que era o Rogério Stimamiglio, que na época trabalhava na farmácia do Dr. Mario. Demonstrando urgência, Rogerio disse a Ica que o doutor queria falar com ela. “Fiquei preocupada, achei que minha mãe não estava bem, fui imediatamente pra lá”.
Chegando na farmácia, a mulher relata que o Dr. Mario foi diretamente ao assunto, falando em dialeto disse: “Maria santíssima, voliu mia tchapar quela toseta lá, par quê so pare vol coparla” (Santa Maria, vocês não querem ficar com aquela menina, pois o seu pai quer mata-la). Respondi pra ele que não poderia resolver sozinha, precisaria falar com o marido.
O Caio foi até a farmácia conversar com o médico, disse a ele que até teriam interesse em adotar uma menina, mas que queriam ficar com ela alguns dias para ver a reação do Leandro que estava com cinco anos.
Uma bela manhã, por volta das 10h30min, Ica fazia almoço quando surgiu uma moça bonita, bem vestida, com uma criança no colo. Podia-se ver no semblante da menina, de três anos, que ela já havia sofrido bastante. “A moça simplesmente entrou na cozinha e falou: “Eu vim trazer a menina”, não disse mais nada, largou a criança e saiu”.
Surgiu uma grande preocupação, a criança chegou na casa apenas com a roupa do corpo, não fosse à vizinha Isolda Pasqualini, que se propôs ajudar, Ica não saberia o que fazer.
Isolda doou uma sacolada de roupas de sua filha. Outra vizinha, Clair Ravanello, também ajudou com roupas de sua filha. Teresinha conta que a menina, apesar dos três anos, não falava nada, talvez por medo, não tinha forças pra nada, nem para subir na poltrona. Começou a conversar após oito dias.
Solange dormia sozinha em um quarto e Leandro noutro. “Todas as noites eu me ajoelhava ao lado da cama e conversava com ela, dizia para ela se sentir bem, que todos tinham aceitado e gostado dela. Ela ficava me olhando e quando me dava por conta, pegava no sono, dormia toda a noite”.
A reação do Leandro para com a menina, segundo Ica, foi a melhor possível, “ele pegou Solange no colo, cuidava dela, ai de quem quisesse fazer alguma coisa”, ainda hoje ele é apaixonado por ela” conta.
A criação
Ica conta que a criação dos dois filhos adotivos foi normal, como qualquer criança e adolescente. Desde criança sempre falou a verdade sobre as adoções, segundo ela, isso não foi problema, pois sempre aceitaram. O maior problema enfrentado foi com Leandro, na escola. Apesar de ser um menino muito inteligente, qualquer coisa que acontecesse era motivo era para acusar o Leandro. “Um dia ele chegou em casa e me disse: “mãe, eu chorei lá porque disseram que eu era filho de capoeira, dai eu disse que iria pra casa e contaria tudo para minha mãe e meu pai”. Com lagrimas nos olhos Ica lembra que esses mesmos meninos disseram para ele que nós nem éramos seus pais. Nesse época o menino tinha 11 anos.
Com o passar do tempo e com o carinho dos pais, Leandro não se importou mais com as ofensas dos colegas que, vendo que os insultos não causavam incomodo no menino, acabaram parando.
Perguntado se recomenda adoção, Ica disse que, sem pensar vai dizer adota, por que se é pra dar ruim vai dar também se for filho legitimo.
“Hoje eu tenho dois filhos de coração que me querem muito bem, estão retribuindo o amor que dedicamos a eles”.
“A minha mãe me deu educação e saber respeitar os outros desde pequeno. Eu amos de mais esse casal”,Leandro Maschio.