A esperança de ter um sentido maior para a vida
A história que contaremos a seguir parece ter sido retirada de um roteiro de filme de drama, mas não é. Os relatos são verídicos de quem saiu de uma infância com resquícios de terror para a realização do desejo de maternidade e encontrou um sentido para a vida.
Três dos principais protagonistas hoje vivem em Antônio Prado.
Nascida em Capinzal – SC, em 10 de junho de 1977, Solange Pasinatto Carra, hoje prestes a fazer 45 anos, recebeu a nossa reportagem em seu consultório psicológico e contou sua história.
Filha biológica de um casal desestruturado, uma mãe que era conhecida na cidade como “Andarilha”, seu nome era Maria, e de um pai ausente, viveu momentos de horror até os 7 anos, tinha um irmão mais velho. “Nós vivíamos numa condição bem desumana e de extrema violência, ela descontava sua revolta nos filhos, nos batia com extrema violência”, conta.
Nesse tempo a família morava no interior, em meio a uma mata e próximo a um rio. A moradia era um pequeno coberto com algumas tábuas ao redor. Todos dormiam no chão, com alguns cobertores sujos.
Muitas vezes Solange e o irmão ficavam sozinhos por dias, a mãe saia de casa, sempre sem rumo e o pai também quase nunca estava presente, lembra muito pouco dele. Outras vezes tinham que fugir de casa e passavam a noite escondidos no mato, tamanha era a violência da mãe. No mato, para se proteger e passar a noite se cobriam com grandes folhas, retornando para casa no dia seguinte. Outras vezes iam para a cidade e ficavam na rua, o irmão vendia balas e Solange o acompanhava. Lembra que quando chegava à tardinha ela e o irmão dormiam dentro de caixas de papelão usadas para embalar geladeiras. A noite um senhor levava a eles comida e os cobria com seu próprio casaco. Nesse tempo conhecemos a realidade da rua. “Até hoje eu não entendo como ninguém viu e recolheu aquelas crianças que estavam ali”. Solange conta que toda vez que via um casal na rua, com uma criança perguntava ao irmão: “Será que um dia a gente vai ter um colo? Será que um dia a gente vai ter uma família? Eu via aquelas crianças no colo daquelas mães e dizia que meu sonho era ter uma família, ter um colinho”.
Nessas andanças pelas ruas a genitora acabou engravidando, Solange não lembra quantos anos tinha, mas lembra perfeitamente o que aconteceu. Alguns dias após parir levou os filhos para se banharem no rio. A criança recém-nascida chorava muito e acabou sendo espancada. Para a surpresa dos irmãos a mãe olhou para eles e disse: “Eu vou fazer com o bebê o que eu devia ter feito com vocês, por que vocês não deviam ter nascido”. Depois disso arremessou a criança na água, que foi levada pela correnteza.
Os dias foram passando e a mãe sempre repetia a mesma coisa, que iria fazer com eles o que fez com o bebê.
“Ela matou dois filhos na nossa frente. Algum tempo depois ela engravidou e fez o mesmo com o outro bebê, jogou no rio. Eu e meu irmão ficávamos apavorados, não tinha ninguém por nós”, conta Solange em meio ao choro.
O começo da mudança de vida
O destino de Solange começou a ser traçado 16 anos antes de seu nascimento, quando os que seriam pais adotivos casaram. Era 27 de maio de 1961 quando Alcides e Etelvina Pasinatto casaram em cerimônia na Capela Santo Antônio, Linha Gomercindo, Antônio Prado.
No ano seguinte o jovem casal resolveu buscar novas possibilidades e se mudaram para Erval Velho – SC, a poucos quilômetros de Capinzal. Lá instalados adquiriram uma propriedade no interior e começaram a trabalhar na lavoura. Mais tarde o casal descobriu que Etelvina não poderia ter filhos. Com o passar do tempo sentiram a necessidade de uma companhia, então decidiram que iriam adotar uma criança.
Foi através de uma irmã da mãe biológica Maria que o casal Pasinatto ficou sabendo da situação das crianças. Resolveram então que queriam adotar o menino, irmão de Solange. Surgiu então o primeiro contratempo, a mãe biológica queria entregar a menina e não o menino.
O casal acabou concordando e então, uma das poucas vezes que o pai estava em casa, levou Solange a cavalo até Erval Velho. Era uma tarde de chuva, meu pai adotivo havia ido para a cidade, a mãe adotiva estava em casa costurando. “Quando o pai chegou simplesmente me largou lá e sem falar nada foi embora. A mãe conta que eu sentei do ladinho dela e fiquei observando seu trabalho. Quando o pai adotivo chegou começou a conversar comigo, com carisma foi me conquistando, começou a interagir comigo, me ofereceu balas”, recorda. Solange lembra também que em nem um momento pediu pelo irmão e nem pelos pais biológicos. “A partir dali eu comecei a descobrir realmente o que era ter um lar, uma família”.
Quando tudo parecia perfeito a mãe biológica começou a incomodar o casal e continuou por vários anos, mesmo após todos os tramites de adoção. A Andarilha ia até a casa dizendo que queria levar Solange de volta com ela. “Ela fazia escândalos, assim desenvolvi dentro de mim muitos medos. Ela dizia que se não me levasse embora eles também não iriam ficar comigo, pois ela daria um jeito de me matar. Ela acabava me arrancando de lá me deixando literalmente nua no meio da rua e me levava embora enrolada em algum pano até o juiz expedir um mandado restitutivo”. Segundo Solange isso durou três anos. Mesmo assim a Maria continuou indo até a casa do casal, mas o pai adotivo à expulsava de lá.
Solange lembra que nas festas de Natal e Final de Ano a mãe biológica ia até a casa com bolachas enfeitadas e a mãe adotiva dizia: “Não come, as bolachas devem estar envenenadas”. Se voltava para a mulher e dizia: “Você veio fazer o que aqui, veio fazer alguma coisa?”
Muitas vezes ela trazia consigo uma bolsa com roupas na intenção de ficar, mas não conseguia, pois era muito perturbada. Após um tempo e uma medida protetiva, as visitas pararam.
“Foi muito bom, eu tinha comida, uma cama, tinha com quem conversar, eu fui me descobrindo, pois até ali eu era um bicho do mato. Não estudava, não queria saber de ninguém, só me escondia, tinha medo de tudo”.
Nessa época, Solange ajudava os pais adotivos com os trabalhos em casa. Frequentava a igreja da comunidade e foi ali que começou a encontrar algo de bom, na religião, na fé.
Com oito anos Solange começou a estudar. “Eu tinha problemas, não conversava com os colegas e professores, meus pais eram chamados para conversar, eu tinha um trauma muito grande”.
Devido a todos os problemas vivenciados Solange começou a ficar doente, começou a sentir dores de barriga, de cabeça, estava revoltada, mas mesmo assim trabalhava em casa. Começou, junto com a mãe a ajudar na comunidade e começou a gostar daquilo.
Na faixa dos 10 aos 11 anos Solange começou a se soltar mais, já lia, interagia com os parentes. Começou a assentir afeto, amor que despertou nela coisas boas nas pessoas e na comunidade. “Eu gostava daquilo, comecei a ter amizades e foi indo, mas sempre doente, sempre em hospitais”.
Naquela época não era comum acompanhamento psicológico, eram feitos tratamentos à base de medicamentos apenas. Solange sofria com desmaios frequentes, epilepsias.
Com 12 anos começou a estudar em uma escola na cidade, para isso fazia dois quase dois quilômetros a pé para pegar a Kombi com os demais alunos.
“Nessa época eu era alvo de chacota, caçoavam de mim, pois eu era da colônia, por que eu era adotada, diziam que eu era um bichinho do mato. Então eu não me relacionava com praticamente ninguém, ficava sempre na minha. Mas eu era uma boa aluna, gostava de ouvir os professores, fazer as coisas”.
Isso foi despertando na menina o interesse pela leitura e pelos estudos. “Meu pai sempre dizia:
– “Estuda que um dia a gente vai morar na cidade e aí você vai fazer faculdade e vai ser o que você quiser de profissão.”
Logo que foi adotada Solange e a família vinham a cada dois anos visitar os parentes em Antônio Prado, geralmente na Páscoa, ela relata que gostava de vir, se sentia como se aqui fosse seu lugar. “Quando a gente se encontrava com os parentes eles diziam: – Olha a filha do Cide!! Eu era uma ratinha, eles me abraçavam, me davam colo”. Com essas atitudes Solange sentia o afeto, o carinho da família, vinham para a festa na linha Gomercindo, iam visitar as famílias e brincava com os primos. Mas a volta para a realidade em que vivia era necessário, e sempre era com muita choradeira por parte de Solange.
Do ensino primário Solange passou para o ensino médio, também se fechava, não tinha com quem conversar, pois era tachada de colona, adotada, era motivo de chacota.
Por ser uma boa aluna, conseguia fazer alguns amigos por interesse, para passar cola fazer os trabalhos, assim, de certa forma, foi conquistando alguns. Mesmo assim nessa época vivia doente, hospitalizada, tinha aquela sensação de sempre estar sozinha, de ter um vazio.
De certa forma tinha privilégio por ser a única menina no transporte escolar da comunidade até a cidade. O motorista sempre deixava que ela sentasse na frente, mas isso tinha um objetivo escuso. Certa vez o transporte foi feito com uma Kombi de carroceria. Todos os meninos foram na caçamba, Solange sentou na frente com o motorista. Além do preconceito, nesse dia sofreu também assédio sexual, começou a ser molestada, criando assim mais um trauma. “Eu mal sabia o que estava acontecendo, não conseguia contar para meus pais. Eu era uma adolescente bem vulnerável, ficava exposta para vários riscos”. Isso fez com que se fechasse cada vez mais.
Após o final do ensino médio ainda continuava bem doente, se questionava muito o porquê de tudo aquilo, começando a se revoltar, se perguntava: ” Por que minha mãe não me quis mais, por que era excluída, rejeitada?”
Para Solange, o Dia das Mães era de revolta, pensava: ” Imagina, como comemorar o dia das mães, mãe não faz o que a minha fez comigo.”
Nesse meio tempo começou a entrar em conflito com a mãe adotiva, pois tinha por dentro uma imagem péssima de mãe. Aquilo começou a causar mais transtornos e problemas de saúde na adolescente, que se fechou ainda mais.
Ao final do ensino médio o pai deu a notícia de que a família iria voltar para o Rio Grande do Sul e Solange poderia retomar os estudos aqui. Os pais já tinham comprado um terreno para construir em Antônio Prado.
Antes de partir de Santa Catarina, continuou ajudando na comunidade, nunca saía com amigos, conversava com alguns rapazes, algumas moças da comunidade, mas sempre reservada, sentia algo por dentro que a queimava, não sabia com quem desabafar. “Meus pais só sabiam trabalhar, eu entendi isso mais tarde.”
Meu consolo muitas vezes era sentar embaixo de uma árvore que tinha na frente de casa e ouvir música, parecia que os locutores conversavam comigo. “As músicas deixavam mensagens que tocavam minha alma, traduzindo muitas vezes, o que eu não conseguia traduzir, me consolavam”.
No ano que Solange completou 17 anos, isso em 1994, a família se mudou para Antônio Prado. Junto com Solange vieram todos os seus problemas internos. Começou a se questionar o que iria fazer em Antônio Prado.
Até a construção da casa a família morou em um pequeno alojamento, que era de um irmão de sua mãe, não queriam pagar aluguel. Solange lembra que, também nessa época, não teve os pais presentes, viviam em função de trabalho, para construir a casa.
Solange então, apesar de sempre ter trabalhado na roça, decidiu arrumar emprego em uma casa de família. Começou então a se relacionar com pessoas estranhas, o que para ela foi muito difícil e dolorido. Começaram novamente os problemas de saúde, como epilepsia, dores de cabeça, tendo que deixar o emprego. Através de uma prima, conseguiu emprego em uma fábrica de calçados na cidade, lá também não foi muito feliz. Devido as suas dores internas entrou em conflito com os colegas, com o chefe e, adoeceu cada vez mais. Acabou perdendo o emprego. Depois disso conseguiu colocação em um supermercado, onde, para ocupar a cabeça e evitar novos atritos, não parava, fazia de tudo, em todos os setores.
Foi nesse período de supermercado que conheceu o atual marido, Celso Carra. “Lembro que foi num jogo de futebol em São Roque. Foi uma das pessoas mais maravilhosas que eu pude conhecer na vida. Até hoje, por conta da minha fé, eu digo que foi a mão de Deus que colocou meus pais e esse anjo, o Celso, no meu caminho, na minha vida. A gente começou a conversar, se conhecer e foi aí que eu vi que era o homem para ser meu esposo e o pai dos meus filhos.
Nessa época Solange continuava com seus conflitos internos, relata que já não sabia mais quem era ela, onde estava”. “Mais tarde o Celso me disse que quando me viu sentiu até pena de mim”.
Celso e Solange começaram um relacionamento, frequentavam alguns lugares, se relacionaram com amigos e a jovem começou a gostar da vida em sociedade. Mas, novamente vieram os conflitos internos com os pais adotivos. “Era porque eu precisava de alguma coisa, porque eles não terminavam a casa, porque eu queria sair daquele lugar. Eu não estava bem, comecei a projetar em todo mundo. Comecei a ter conflitos com o Celso, “Nesse momento foi que eu resolvi dar fim a minha vida. Já não sabia mais quem eu era, estava na fase do desespero, não tinha mais condições de viver”.
Não alcançou o objetivo e acabou internada em um hospital, em Caxias do Sul, passou pela UTI, mas conseguiu se recuperar. Quando estava no quarto, Solange conta que o Celso apareceu, quando ele abriu a porta ela perguntou: “O que tu está fazendo aqui? Olha a pessoa que eu sou, você ainda quer me ver?” De imediato Celso respondeu: “Eu sei a pessoa que tu é e o coração que tu tens. Eu sei da tua história, da tua caminhada, tu tens muita coisa pela frente e eu estou contigo, nós vamos juntos”. Foi a partir desse encontro que começou uma caminhada em busca de ajuda, mesmo nos medicamentos, com um tratamento mais intenso. “Eu sabia que tinha muita luta pela frente”.
Essas palavras ficaram na memória de Solange e até os dias atuais leva em palestras que o casal profere. Salienta o quanto é importante quando alguém chega e diz para a pessoa aquilo que ela não consegue ver.
Nesse caminho o casal encontrou muitas pessoas especiais, o que acabou atraindo ainda mais Solange no trabalho que faziam.
O casal já estava num relacionamento firme, Celso trabalhava na colônia e Solange morava na cidade com os pais. Prematuramente Solange engravidou. “Eu não estava preparada para ser mãe pois tinha toda aquela ferida dentro de mim, ainda não tinha cicatrizado. Só mais tarde entendi que aquele momento era realmente para começar um processo de ressignificação e melhorar a ferida me tornando mãe”.
Só que Solange ainda estava fragilizada, começou a pensar que iria desapontar os pais com a gravidez antes do casamento. Mas, felizmente, os pais entenderam e gostaram da ideia de serem avôs.
O casamento de Solange e Celso foi em outubro de 1996 e a primeira filha, Angélica, nasceu em março de 1997. Veio a depressão pós-parto, não queria muito ver a criança, a bebe resistia e não queria pegar o peito. Juntos o casal optou em morar na colônia, com os pais de Celso. Não houve acerto com os sogros e Solange retornou para a cidade com os pais, durante mais dois anos. Quando Angélica tinha dois anos Solange estava ainda muito depressiva, não exercia muito bem o papel de mãe. Então disse para o marido: “Quero que venha morar aqui e vamos construir algo juntos, tu precisa estar do meu lado, a nossa filha também precisa de você, ela está sempre doente em função de tudo isso”.
Solange contou muito com a ajuda dos pais para cuidar da filha, vivia mais na cama, levantava alguns dias e voltava para a cama.
Na cidade Celso conseguiu um emprego em uma loja de móveis e eletrodomésticos. Moraram um tempo com os pais, depois se mudaram para o andar debaixo e começaram a construir seu canto. “Mesmo com o tratamento a dor era muito grande. Aí pensei em ir para a igreja”.
Era tarde, os pais de Solange ficaram com Angélica, que estava com três anos, e ela foi à igreja. Conta que se ajoelhou e começou a chorar muito. “Eu olhava para as imagens, parei na de Santo Antônio, que tem uma criança no colo e disse, – Você entende o que eu estou passando? Se você entende o que eu estou passando me ajudem.” Foi à mão de Deus.
Solange conta que tinha um grupo de jovens na igreja, não sabia quem era nem de onde eram não sabiam o que estavam fazendo lá. Em determinado momento o grupo começou a cantar uma música que dizia assim: “Ninguém te ama como eu, tenho esperado que viesses a mim, eu sei bem o que tem sofrido, sei também que tem chorado. Ninguém te ama como eu!”
Nesse momento Solange sentiu uma sensação de que estavam tirando algo de dentro dela, aquelas pedras, aquele peso que sentia começou a sair. A partir dali começou a sentir algo de bom nela mesma, algo grandioso floresceu. “Pedi a Deus para me direcionar, dar um caminho para saber o que fazer da vida”.
A primeira coisa que Solange pensou foi procurar a mãe biológica para perdoar ela. Foi para casa, conversou com os pais e com o marido e disse: “Acho que eu preciso revisitar a minha história para poder dar um novo significado a minha vida e sarar as feridas. Vou procurar minha mãe biológica e pedir perdão a ela”. Todos apoiaram a iniciativa.
Buscando informações de onde ela estaria, ficou sabendo que estava em um asilo na cidade de Erechim – RS, foi agendada uma viagem, junto foi o marido e o pai.
Para a surpresa de todos que estavam no local aguardando, à mãe biológica se aproximou e começou a pedir perdão, com emoção dizia: “É a Solange!! Solange, tu perdoa essa mãe? Eu não tinha nada para dar de comida a vocês. Perdoa essa mãe que tanto mal te fez! “Eu fui disposta a perdoar, mas ela quem me pediu perdão. “Eu estava aberta, foi um encontro bem importante para cicatrizar algumas feridas, um peso muito grande saiu de mim a partir disso”.
Após esse fato Solange conta que começou a melhorar seu comportamento como mãe, a se dedicar mais no papel que recebeu.
Em 24 de maio de 2001 teve a segunda filha, a Luana. Nessa época já trabalhava com o marido na loja de eletrodomésticos como vendedora, o que, segundo ela, ajudou a se desenvolver mais.
Nas horas vagas fazia cursos, trabalhos voluntários no hospital e começou a despertar o interesse pela psicologia, fez esse trabalho por quatro anos.
“Um dia eu li uma frase de Viktor Frankl que dizia: – Encontrei o significado da minha vida ajudando os outros a encontrar o sentido das suas vidas. Assim eu acreditei que a dor que eu vivi pudesse ajudar as outras pessoas”. Em 2016 Solange se formou em psicologia. Desde então sempre buscou associar a psicologia com a espiritualidade, com os valores, com o sentido da vida. “Eu posso ter mil defeitos, mas sou um ser humano como qualquer um. Mas na essência somos todos iguais, e o que eu penso a respeito da vida é que um dia ela vai perguntar: – O que eu fiz com meus sonhos e qual foi meu jeito de amar? O que eu fiz com as pessoas que no mundo vão continuar, para que eu não tenha vivido à toa e não seja tarde demais!” O que eu penso a respeito da vida, é que um dia ela vai perguntar: o que é que eu fiz com os meus sonhos e qual foi o meu jeito de amar.
O que é que eu deixei para as pessoas que no mundo vão continuar (trecho da canção: Certas Coisas pra dizer de Jorge Trevisol)
Me lema de vida
“Eu não estou aqui por acaso, eu tenho uma missão e precisei passar por todo esse caminho e ainda vou passar outros com certeza, para hoje estar onde estou. Isso eu só fui entendendo na caminhada da vida”.
O irmão de Solange ficou algum tempo internado em uma clínica em Ana Rech, todo o final de semana ia visitá-lo. Com o passar do tempo percebeu que a situação dele estava piorando, achou que era dos medicamentos. Então resolveu solicitar a sua saída da clínica para que ele morasse com ela em Antônio Prado. Ele ficou um mês na sua casa depois quis voltar para Santa Catarina para morar com a mãe, que tinha saído do asilo. Chegou a morar em Barracão – RS com o pai e a madrasta.
Como a irmã mais velha de Alcides, pai adotivo, morava por perto de onde seu irmão estava, buscava sempre informações de como ele estava. Ajudou financeiramente enviando cestas básicas.
Atualmente o irmão mora em Joaçaba – SC com uma tia e vive a base de medicamentos.
Solange deixa uma mensagem para quem acha que não existe uma saída: “Busque ajuda, seja com quem for com um amigo com um familiar, ponha para fora as mágoas, converse com um profissional, busque ajuda espiritual principalmente. Daí você começa a descobrir o ser humano que você é por meio de sua essência.”
O pai biológico de Solange faleceu de AVC em 2016 e a mãe em mãe em 2019. Foi visitar o túmulo da mãe e depositou flores, agradeceu não pela vida que teve, mas pela vida que lhe deu. “Meus pais, hoje, eu sei quem foram”.
Os corpos dos dois bebês jogados no rio nunca foram encontrados.
1 comentário
Poxa, emocionante, gostei muito, Deus te abençoe mulher sofrida, Deus sempre foi contigo, por isso você hoje pode se considerar uma pessoa vencedora
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