A partir do conhecimento em viticultura repassado pelos pais, Juliano e Daniela Zottis se orgulham pela abertura da empresa em plena pandemia
O encontro entre campo e cidade pode simbolizar a formação do casal Juliano e Daniela Zottis, juntos há 10 anos. Ele, nascido e criado em uma propriedade rural em Bento Gonçalves, sempre viveu para o cultivo de uvas. Ela, enóloga, natural de Garibaldi, ajudava o pai a fazer vinho em casa. Casados há sete anos, resolveram fazer do porão da própria residência no Vale dos Vinhedos a plataforma de lançamento para a construção de uma vinícola.
“A gente sempre quis abrir uma vinícola. Há cinco anos vendemos aqui uvas de mesa, é um ponto que as pessoas já conhecem por isso. Aos pouquinhos a gente foi elaborando vinho, e aí surgiu a oportunidade, de a gente registrar como uma agroindústria”, explica Daniela.
Sob orientação da Emater/RS-Ascar, a Casa Zottis fez as reformas necessárias para atender aos requisitos sanitários e ambientais de uma vinícola, se inscreveu no Peaf e obteve o registro oficial do Mapa como vinícola em 2020, por meio da Lei dos Vinhos Coloniais, que permite o registro pelo CPF do proprietário do estabelecimento. Este tipo de registro traz alguns condicionantes, como o limite de produção de 20 mil litros anuais de vinho e a restrição de venda apenas na propriedade ou em feiras de agricultura familiar. “É um dos diferenciais, quando falamos para o cliente: ‘só encontra aqui’. Às vezes esse ‘só pode ser vendido aqui’ acaba nos ajudando na venda”, conta Daniela.
Como o registro foi conquistado durante a pandemia, ainda não houve oportunidade de a Casa Zottis participar de feiras. “A nossa renda principal ainda é a uva de mesa, então a pandemia não foi impactante. Conseguimos inaugurar a vinícola em junho deste ano e estamos, aos poucos, vendendo nossos vinhos e espumantes para clientes antigos, que compram nossas uvas de mesa. Hoje atendemos todas as quintas, sextas e sábados, porque tenho um outro emprego, mas futuramente vou passar a me dedicar em tempo integral e vamos abrir de terça a domingo”, explica Daniela.
A propriedade conquistou uma clientela fiel de moradores da região e vem chamando a atenção de turistas que visitam o Vale dos Vinhedos. Para Daniela, o que atrai o público é justamente o ambiente familiar que a casa proporciona. “A gente gosta de atender, conversar, um dos diferenciais que o pessoal fala bastante é que meus sogros gostam de conversar, então o pessoal se sente acolhido. Nosso objetivo aqui é manter a tradição do cultivo da uva e a elaboração do vinho no porão de casa – por isso é Casa Zottis, porque é o no porão da nossa casa que nós temos esta estrutura”, detalha a enóloga.
A vinícola trabalha com vinhos de mesa, mas também vem investindo na produção de vinhos e espumantes finos, com variedades incomuns como moscato de Hamburgo e Alicante Bouschet. “O moscato de Hamburgo é uma variedade que a gente aposta muito, era a preferida do falecido avô do Juliano. É um vinho rosé bem leve, aromático, delicioso”, explica Daniela. A propriedade conta com 12,5 hectares de área cultivada com 15 variedades de uva, para vinho e de mesa.
Embora trabalhem em aspectos diferentes da produção do vinho, o casal busca qualificações complementares, como um curso de sommelier que fizeram em 2014. E que, para Juliano, foi um divisor de águas. “Eu inscrevi o Juliano escondida, porque ele é muito tímido, não sabia o que dizer quando fosse se apresentar à turma. Eu falei: diz que você é um viticultor do Vale dos Vinhedos”.
Juliano continua a história: “Daí eu disse isso mesmo, e todo mundo se interessou por saber como eu fazia, como eu cultivava as uvas. Foi um momento importante, que virou uma chave para mim, porque passei a sentir orgulho de ser agricultor. Quando criança, na escola, ser chamado de colono era motivo de vergonha. Hoje sinto muito orgulho das minhas origens”, frisa.
O herdeiro da tradição de duas famílias que se uniram pelo amor à uva e ao vinho é Leonardo, o filho de cinco anos do casal. Logo ao lado, no parreiral da família, o menino brinca despreocupado com o gato de estimação Merlot. “A gente recebeu toda essa formação de nossos pais e avós, então a ideia é a gente passar adiante, para ele”, conclui Daniela.
Texto: Elaine Pinto/ Secretaria da Agricultura